Há dias, o UCHO.INFO publicou artigo em que o editor usou os adjetivos “preconceituosa” e “asquerosa” ao fazer referência à elite brasileira. Desde a chegada de Jair Bolsonaro ao poder central até o final de seu mandato presidencial, o Brasil assistiu de forma quase passiva o recrudescimento do discurso de ódio, como se tal comportamento encontra-se abrigo na democracia e no Estado de Direito.
É notório que parte da sociedade verde-loura, em especial a mais aquinhoada, nutre ojeriza por pautas sociais, algo que advém da intolerância com o Partido dos Trabalhadores e seus aliados ideológicos, mas não se pode silenciar diante de manifestações absurdas como a do vereador Sandro Fantinel, de Caxias do Sul, que na Câmara da cidade gaúcha proferiu discurso xenófobo em relação aos baianos.
Em sua fala criminosa, o vereador referiu-se aos nordestinos, em sua maioria baianos, resgatados pelas autoridades em situação análoga à escravidão em trabalho de carga e descarga de uva para três grandes vinícolas gaúchas. Os trabalhadores, que foram levados de volta à Bahia, eram mantidos em situação degradante e submetidos a humilhação e violência física.
Expulso do Podemos e investigado pela polícia gaúcha e pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul, Fantinel cometeu crime de racismo ao afirmar, no plenário da Câmara Municipal de Caxias do Sul: “Gente, só vou dar um conselho: agricultores, produtores, empresas agrícolas que estão me acompanhando não contratem mais aquela gente lá de cima (Bahia)”.
“Com os ‘baiano’, que a única cultura que eles têm é viver na praia tocando o tambor, era normal que tivesse esse tipo de problema (de trabalho análogo à escravidão)” afirmou. “Que isso sirva de lição. Deixem aquele povo, que é acostumado com carnaval e festa, para vocês não se incomodarem novamente”, completou.
Em qualquer país minimamente sério e com autoridades responsáveis, Sandro Fantinel teria recebido voz de prisão durante o discurso, mas seus pares de vereança talvez desconheçam que em flagrante delito a legislação permite tal ato.
Faz-se necessário destacar que o discurso preconceituoso e torpe de Fantinel encontra eco na sociedade brasileira, pois muitos pensam da mesma maneira ou até pior. Essas pessoas, a reboque de soberba nauseante, ignoram que preconceito por razões de origem é crime e como tal deve ser tratado com o rigor da lei.
Para que os leitores consigam avaliar a extensão do absurdo, a tragédia que se abateu sobre São Sebastião, no Litoral Norte de São Paulo, durante o Carnaval, sensibilizou grande parte da opinião pública, mas no contraponto alguns elitistas, que chafurdam na vala da delinquência intelectual, insistem em tratar o assunto com desdém, rotulando como corriqueiras 57 mortes por deslizamento de terra.
Na tentativa de minimizar a catástrofe, os insensíveis, que dizem ser humanos, alegam que episódios como o que ocorreu no litoral paulista acontecem todos os anos, inclusive com mortos, desabrigados e desalojados. Em suma, creem que são superiores apenas por uma condição financeira supostamente favorável, o que os impede de ter compaixão e empatia com as vítimas da tragédia.
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