A epopeia das joias sauditas continua rendendo capítulos novos a todo instante. Quando o escândalo veio à tona, revelado pelo jornal “O Estado de S. Paulo”, os envolvidos na trama se desdobraram para encontrar desculpas, mas nenhuma convenceu. Com o passar dos dias, as narrativas foram mudando para que as esdruxulas alegações pudessem se aproximar do campo do bom-senso.
Jair Bolsonaro, o ex-presidente que continua refugiado nos Estados Unidos, afirmou de chofre que jamais pediu presente a quem quer que fosse, tampouco teria recebido qualquer mimo. O que não é verdade. A farsa não demorou muito a desmoronar, pois o próprio Bolsonaro afirmou que as joias poderiam ser usadas Michelle por outras primeiras-damas.
Ex-ministro de Minas e Energia, o almirante de esquadra Bento Albuquerque disse aos fiscais da Receita Federal e em entrevista ao Estadão que a caixa com joias, avaliadas em R$ 16,5 milhões, era um presente dos sauditas a Michelle Bolsonaro.
Michelle, por sua vez, sempre agarrada a uma languidez torpe, alegou desconhecer que havia sido presenteada pelos sauditas. E acusou a imprensa por uma ação criminosa pilotada pelo marido.
O governo saudita até o momento não se pronunciou a respeito do caso, ou seja, não confirmou nem negou se a decisão de presentear Bolsonaro e a mulher partiu do núcleo da ditadura comandada pelo príncipe Mohammed bin Salman al Saud.
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Bento Albuquerque afirmou ter recebido as caixas com as joias no setor de embarque do aeroporto de Riad, ou seja, o presente não foi oferecido em ato oficial do governo saudita. Alias, apenas uma comitiva liderada pelo então ministro de Minas e Energia viajou à Arábia Saudita, sem a presença de Bolsonaro e da ex-primeira-dama.
Um mês após a comitiva brasileira desembarcar no Aeroporto Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo, com direito à apreensão das joias pela Receita Federal, a Petrobras vendeu a Refinaria Landulpho Alves ao fundo de investimento Mubadala Capital, de Abu Dhabi, dos Emirados Árabes. O negócio foi fechado por US$ 1,8 bilhão, mas o valor da refinaria estava estimado em US$ 4 bilhões.
Uma segunda caixa com joias, trazida ilegalmente ao Brasil por Bento Albuquerque, não apreendida pela Receita Federal, foi entregue meses depois a Jair Bolsonaro. Em mais um gesto de falso bom-mocismo, Bolsonaro se dispôs a entregar a tal caixa com joias ao Tribunal de Contas da União, que mais adiante decidirá sobre o destino do polêmico presente.
Contudo, causa espécie a decisão de Michelle Bolsonaro de viajar a Orlando, na Flórida, para se encontrar com o ex-presidente. De acordo com pessoas próximas a Bolsonaro, a viagem servirá para o casal definir uma estratégia de defesa comum no caso das joias sauditas, assim como o futuro de Michelle no Partido Liberal.
Até o final de semana, Michelle e Jair Bolsonaro se esforçavam para passar uma imagem de inocentes enganados, mas agora querem alinhar um discurso para apresentar às autoridades. Atitude no mínimo estranha para quem sempre entoou o versículo bíblico “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (João 8:32).
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