Epopeia das joias: em depoimento à PF, Bento Albuquerque muda versão para proteger Bolsonaro

 
Após o jornal “O Estado de S. Paulo” revelar o escândalo das milionárias joias sauditas destinadas a Jair e Michelle Bolsonaro, o UCHO.INFO afirmou que a epopeia estava apenas no começo e renderia inúmeros capítulos.

Responsável por trazer de forma ilegal para o Brasil as joias avaliadas em mais de R$ 16,5 milhões, o ex-ministro Bento Albuquerque (Minas e Energia) está caindo em contradição. Por ocasião da apreensão das joias pela Receita Federal, Albuquerque disse que o presente destinava-se a Michelle Bolsonaro, então primeira-dama.

No momento da apreensão, o então ministro acionou a cúpula da Receita Federal para liberar as joias, mas não logrou êxito. Depois da fracassada investida de Albuquerque, o governo Bolsonaro tentou a liberação das joias em oito ocasiões, mas de igual modo não obteve sucesso.

Em entrevista ao Estadão, Bento Albuquerque afirmou de maneira categórica que as joias apreendidas eram para a então primeira-dama, repetindo o que disse aos fiscais da Receita Federal por ocasião da apreensão.

“Isso era um presente. Como era uma joia, a joia não era para o presidente Bolsonaro, né… deveria ser para a primeira-dama Michelle Bolsonaro. E o relógio e essas coisas, que nós vimos depois, deveria ser para o presidente, como dois embrulhos”, disse o ex-ministro.

Em depoimento à Polícia Federal, nesta terça-feira (14), o ex-ministro mudou a versão dos fatos. Aos investigadores, Albuquerque, que é almirante de esquadra da Marinha, afirmou que ao se pronunciar sobre as joias teve a intenção de fazer referência a bens do Estado brasileiro.

 
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Declarações contraditórias e decisões estranhas têm surgido na esteira do episódio que, na melhor das hipóteses, deve ser considerado como contrabando. Bolsonaro disse logo de início que não havia solicitado nem recebido presentes. Depois alegou que as joias poderiam ser utilizadas por Michelle e as primeiras-damas subsequentes, não sem antes atacar a imprensa, como de praxe.

Michelle Bolsonaro, por sua vez, usou as redes sociais para revelar indignação com o caso e afirmar que desconhecia ser destinatária das joias. Assim como o marido, a ex-primeira-dama atacou a imprensa.

Com o escândalo em efervescência, Michelle decidiu viajar aos Estados Unidos, nesta terça-feira, onde se encontrará com Bolsonaro para alinhar uma estratégia de defesa. Em suma, o casal alegou não saber das joias, mas agora quer combinar um discurso.

Ao mudar a narrativa, Bento Albuquerque tenta criar um novo cenário capaz de minimamente blindar Bolsonaro, algo considerado difícil diante da sequência dos fatos. Se os polêmicos presentes eram para o Estado brasileiro, Albuquerque deveria ter informado à Receita no momento da chegada ao Brasil, o que não aconteceu. A incorporação de bens ao patrimônio do Estado exige procedimento específico.

Além disso, o ex-ministro não informou à Receita, no momento do desembarque, que trazia outro pacote na bagagem, destinado a Bolsonaro, que com fermentação da polêmica já externou intenção de entregar os bens ao Tribunal de Contas da União (TCU). Para quem disse não ter solicitado ou recebido presentes, Bolsonaro é a personificação da farsa.

O caso torna-se mais conturbado no vácuo do silêncio do governo da Arábia Saudita, que até então não se pronunciou oficialmente sobre os tais presentes. Isso significa que continua valendo a declaração de Bento Albuquerque, que afirmou ter recebido os pacotes com as joias na área de embarque do aeroporto de Riad, ato considerado estranho para uma oferta supostamente oficial.

Um mês após a comitiva brasileira, chefiada por Bento Albuquerque, desembarcar no Aeroporto Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo, a Petrobras vendeu a Refinaria Landulpho Alves ao fundo de investimento Mubadala Capital, de Abu Dhabi, dos Emirados Árabes. O negócio foi fechado por US$ 1,8 bilhão, mas o valor da refinaria estava estimado em US$ 4 bilhões.


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