Homem forte do governador do DF, o “poderoso” Gustavo Rocha está a poucos passos do olho do furacão

 
A política brasileira não é para amadores. De igual modo, como sempre afirmamos, a falta de interesse da opinião pública pelo tema faz com que a política seja uma repetição nefasta do que já se conhece, o famoso “mais do mesmo”.

Durantes as campanhas eleitorais, o País é tomado por uma legião de Don Quixotes de camelô e de falsos profetas, que adotam um discurso embusteiro apenas e tão somente para ludibriar o eleitor e arrebatar votos que garantam um mandato.

Na última semana, ao reassumir o posto de governador do Distrito Federal, após período de afastamento imposto pelo ministro Alexandre de Moraes na esteira doa atos terroristas de 8 de janeiro, o emedebista Ibaneis Rocha usou as redes sociais para falar em recomeço e fazer promessas e juros de amor à população candanga.

Em matéria publicada na edição da última segunda-feira (20), o UCHO.INFO afirmou que Ibaneis, caso queira continuar no comando do GDF, deveria fazer uma faxina na equipe de governo, como forma não criar novas frentes de conflito com o Palácio do Planalto, principalmente.

Durante os 65 dias em que Ibaneis Rocha esteve afastado do Palácio dos Buritis, chamou a atenção o fato de o chefe da Casa Civil do DF, Gustavo do Vale Rocha, um quase “cristão novo” na política nacional.

Advogado, Rocha defendeu o ex-deputado federal, Eduardo Cunha, no âmbito das ações penais decorrentes da Operação Lava-Jato. Ex-presidente da Câmara dos Deputados e responsável pelo processo de impeachment que culminou com o afastamento de Dilma Rousseff, Cunha é dono de currículo que dispensa maiores apresentações. Quem acompanha sua trajetória política desde os tempos em que era presidente da Telerj sabe que se trata de um “globe-trotter” da política.

Na seara das enormes coincidências, Gustavo do Vale Rocha foi indicado ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), na época em que Rodrigo Janot, o algoz-mor da Lava-Jato, estava à frente da Procuradoria-Geral da República. Rocha chegou ao CNMP na vaga que cabe à Câmara dos Deputados. Em suma, não é difícil descobrir quem o indicou.

A ascensão política de Gustavo Rocha foi meteórica. Não demorou muito para chegar ao posto de subchefe de assuntos jurídicos da Casa Civil da Presidência da República no governo de Michel Temer, quando o “manda-chuva” palaciano era ninguém menos que Eliseu Padilha, falecido recentemente.

Gustavo foi guindado ao Ministério de Direitos Humanos por Michel Temer. Sua proximidade com o então presidente lhe rendeu o apelido de “Bessias do Temer”, em alusão a Jorge Messias, que foi uma espécie de chefe da ordenança de Dilma Rousseff.

 
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Rocha teve o nome citado em diálogos gravados Marcelo Calero, então ministro da Cultura, que deixou o governo Temer após relatar suposta tentativa de interferência no órgão para a liberação de um empreendimento imobiliário em Salvador. De acordo com informações, Gustavo Rocha tentou interferir no Ministério da Cultura para favorecer o emedebista baiano Geddel Vieira Lima, preso no escopo da Lava-Jato por guardar em um apartamento da capital baiana a bagatela de R$ 53 milhões em espécie.

O atual chefe da Casa Civil do GDF entrou no radar da Lava-Jato após o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificar dois saques, no total de R$ 104 mil, feitos entre março e abril de 2016.

O movimento de Gustavo Rocha para se aproximar de Ibaneis Rocha se deu no mandato de Temer, que funcionou como uma espécie de padrinho do encontro.

Em 2022, o poder político de Gustavo do Vale Rocha parecia ilimitado. Em março do ano passado, por exemplo, em sua mansão localizada às margens do Lago Paranoá, em Brasília, Rocha comandou um regabofe político cujo objetivo era a aliança eleitoral entre o governador Ibaneis Rocha e a deputada federal Flavia Arruda.

A “jogada de mestre” fracassou parcialmente. A proposta era garantir com folga um novo mandato para Ibaneis Rocha, além de eleger Flávia Arruda, mulher do polêmico José Roberto Arruda, ex-governador do Distrito Federal preso e cassado por corrupção.

Na ocasião do jantar, em meio à euforia, os mais otimistas lançaram a decoradora Marcela Meira Passamani, mulher de Gustavo Rocha, na “chapa imbatível”, na condição de vice de Ibaneis. Contudo, a escolha da vice foi postergada. Celina Leão, atual vice-governador do DF, foi o nome escolhido. Para Marcela Passamani foi apresentado o desafio de uma candidatura de deputada federal, mas o sonho tronou-se um pesadelo em agosto passado.

Passada a eleição, já no novo governo, Gustavo do Vale Rocha foi entronado na Casa Civil, enquanto Marcela Passamani, a esposa do todo-poderoso, foi premiada com a Secretaria de Justiça e Cidadania do DF. Em outras palavras, um misto de compadrio deliberado e ação entre amigos.

Rocha e Passamani são sócios em um escritório de advocacia em Brasília, normalmente buscado por empresários que enfrentam problemas nas instâncias superiores da Justiça ou têm interesses pouco republicanos em relação a governos. Apesar de estar afastado da banca advocatícia, Rocha insiste em se apresentar como advogado.

O chefe da Casa Civil do GDF foi acusado de negligência pelo senador Veneziano Vital do Rêgo. O protegido de Ibaneis Rocha ignorou pedido do então presidente em exercício do Senado para que a Polícia Militar do Distrito Federal ajudasse a proteger o Congresso Nacional da turba de terroristas bolsonaristas que, em 8 de janeiro, deixaram um rastro de destruição na Praça dos Três Poderes.

Marcada por indicações bizarras e salamaleques políticos canhestros, a trajetória de Gustavo do Vale Rocha mais parece uma reedição mal acabada da última estrofe da música “Flor da idade”, de Chico Buarque: “Carlos amava Dora que amava Lia que amava Léa que amava Paulo que amava Juca que amava Dora que amava Carlos amava Dora que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Carlos amava Dora que amava Pedro que amava tanto que amava a filha que amava Carlos que amava Dora que amava toda a quadrilha”.


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