O legado de Boris Fausto para a historiografia brasileira

 
O historiador e cientista político Boris Fausto deixa um importante legado para a história contemporânea do Brasil. Fausto morreu em São Paulo na terça-feira (18), aos 92 anos. Autor de mais de 30 livros, ele escreveu obras que se tornaram clássicos, entre elas, “A Revolução de 1930: Historiografia e História”, publicada originalmente em 1969 e que influenciou a sua geração de historiadores.

Primogênito de uma família de imigrantes judeus, Boris nasceu em São Paulo em 1930. Aos 7 anos, perdeu a mãe e foi entregue junto com os dois irmãos menores pelo pai para ser criado por uma tia materna. Cresceu ouvindo sobre a importância do conhecimento. “Eu me lembro daquela frase: o importante é a educação. Eu estava no Brasil e queria ser brasileiro”, afirmou certa vez o historiador.

Boris estudou em colégios tradicionais de São Paulo e desde pequeno se interessava por literatura. No fim dos anos 1940, começou a cursar Direito na Universidade de São Paulo (USP), onde se formou em 1953. Depois de trabalhar como consultor jurídico da universidade por dez anos, resolveu trocar de carreira e iniciou sua formação em História, em 1963, também na USP.

Em 1969, foi preso devido à sua antiga militância em pequenos partidos de esquerda. No mesmo ano, ele publicou seu primeiro livro, o clássico das ciências sociais brasileiras, “A Revolução de 1930”. Na obra, ele disseca a complexidade do episódio que culminou com o fim da República Velha. Poucos anos depois, em 1975, ele se tornou professor de Ciências Políticas na USP.

Fausto era um grande defensor da democracia e combatente do negacionismo histórico, fenômeno ganhou força nos últimos anos. “Eu não sou a favor de que jamais seria, de que se tenha uma única interpretação da história. Mas o que a gente não pode ir é contra os fatos. Os fatos são os fatos. Não podemos discutir o fato de que uma ditadura é uma ditadura, um regime democrático é um regime democrático”, declarou durante entrevista no programa Conversa com Bial, em julho de 2019.

 
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Obras fundamentais para a historiografia brasileira

Fausto dedicou sua vida a estudar a história do Brasil e ganhou diversos prêmios ao longo de sua carreira por suas obras. Em História do Brasil (1994), publicado em 11 idiomas, ele traça um panorama dos principais acontecimentos do país desde a chegada dos portugueses. Pelo livro de quase 700 páginas, ele foi agraciado com o Prêmio Jabuti de 1995 na categoria Livro Didático.

Em outro clássico, “Crime e Cotidiano” (1984), ele aborda a criminalidade de São Paulo, numa pesquisa pioneira. O historiador também se dedicou a estudar os movimentos operários e sindicalismo, que resultaram em livros como “Trabalho Urbano e Conflito Social” (1976).

Por seu trabalho sobre imigração, no qual analisa a história de sua própria família e de outras que fincaram raízes em São Paulo no início do século passado, “Negócio e Ócios” (1997), Fausto recebeu mais um Prêmio Jabuti, desta vez na categoria melhor livro de Ciências Humanas, em 1998.

Em parceira com Sérgio Buarque de Holanda, participou da organização da coletânea “História Geral da Civilização Brasileira”, com 11 volumes.

Sucessos literários

Lançou ainda sucessos literários como “O Crime do Restaurante Chinês” (2009), que aborda um crime que mobilizou a opinião pública paulista em 1938, e “O Crime da Galeria de Cristal e os dois crimes da mala” (2019), que analisa três homicídios cometidos no começo do século 20 em São Paulo.

Lançado em 2021, seu último livro, “Vida, Morte e Outras Histórias” é uma coletânea de suas memórias e foi impulsionado pela morte de seu irmão Ruy, em 2019. “Sua morte inesperada e essa aproximação me impulsionaram a escrever este livro, passo a passo, sem um esquema prévio”, escreveu Fausto, no início do livro. (Com Deutsche Welle)


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