Ao não se encontrar com Zelensky, Lula implodiu a imagem de defensor da paz

 
O discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em favor de uma solução negociada para o fim da guerra na Ucrânia é frágil. Depois de responsabilizar o governo de Kiev pelas atrocidades cometidas pela Rússia, Lula tentou modular a própria fala para evitar um estrago ainda maior.

Convidado para participar da Cúpula do G7 em Hiroshima, no Japão, o petista foi surpreendido pelo convite feito ao presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, que também participou do encontro das sete maiores economias do planeta.

Zelensky tem resistido bravamente à criminosa invasão comandada pelo facínora Vladimir Putin, o que explica sua concorrida agenda no Japão. Afinal, o presidente ucraniano precisava convencer os líderes do G7 sobre a importância do fim da guerra, que serve apenas para Putin se manter no poder como um ditador disfarçado de democrata.

O desespero de Zelensky é compreensível. Tanto é verdade, que o ucraniano participou recentemente do encontro da Liga Árabe, que reúne criminosos como o saudita Mohamed bin Salman e o sírio Bashar Al-Assad, sem contar os xeiques dos Emirados Árabes Unidos, que não deixam por menos em termos de atrocidades. O grupo em questão não é uma reunião de democratas, pelo contrário.

Lula tem defendido publicamente um acordo de paz, mas perdeu a oportunidade de levar adiante o seu plano ao dificultar o encontro com Zelensky, que nos bastidores foi rotulado como pressão do Ociedente. Ao presidente ucraniano foram disponibilizados três horários distintos para o encontro com Lula, que acabou não ocorrendo por conflito de agendas.

 
Na verdade, o Itamaraty atuou nos bastidores para que o encontro não ocorresse, disponibilizando horários conflitantes com a agenda de Zelensky. Tradicionalmente o Brasil não interfere em assuntos de outros países, exceto no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), onde a Rússia tem poder de veto. Em outras palavras, de nada adianta levar o assunto ao colegiado.

O presidente brasileiro perdeu a grande chance de iniciar uma discussão para terminar com a guerra, até porque paz entre ambos os países jamais existirá no curto prazo, mas usar a agenda como manobra para dificultar o encontro foi demais.

O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, que é alinhado a Moscou, não hesitou em reunir-se com Zelensky. O encontro entre ambos aconteceu logo no começo da cúpula do G7. Além disso, Lula não tem simpatia pelo homólogo ucraniano.

Chama a atenção o fato de alguns profissionais de imprensa, que se dizem independentes, saírem em defesa de Lula e colocando-se contra Zelensky, como se o fim da guerra não fosse de suma importância. Jornalismo de aluguel causa não apenas indignação, mas náuseas. Defender o indefensável é o fim de alguém que brada profissionalismo e independência.

Com essa manobra espúria, o governo do presidente Lula tentou desconstruir a imagem de Volodymyr Zelensky, não sem antes culpá-lo pelo encontro que não aconteceu. Não obstante, o esquema de segurança de Zelensky é extremamente rígido, por isso as mudanças de horários. A diplomacia brasileira sabe que é dificílimo um acordo entre Kiev e Moscou prosperar, por isso tratou de livrar Lula de um vexame internacional.


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