Na edição de segunda-feira, 29 de maio, o UCHO.INFO afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva errou ao creditar a uma narrativa equivocada o atual modelo político da Venezuela, uma ditadura com todas as letras. Boa parte da imprensa criticou o petista, mas alguns setores da mídia conseguiram a proeza de defender o absurdo discurso de Lula falando em protagonismo internacional.
O ditador Nicolás Maduro, que há oito anos não pisava em solo brasileiro, foi recebido por Lula com direito a afagos, muitos dos quais minimizaram a ditadura venezuelana. O presidente brasileiro sugeriu a Maduro uma mudança de narrativa para mudar a forma como outras nações enxergam a Venezuela.
“Cabe à Venezuela mostrar a sua narrativa para que possa efetivamente fazer as pessoas mudarem de opinião. É preciso que você [Maduro] construa a sua narrativa. E a sua narrativa vai ser infinitamente melhor do que o que eles têm contado contra você. Está nas suas mãos construir a sua narrativa e virar esse jogo, para que a gente possa vencer definitivamente, e a Venezuela, voltar a ser um país soberano, onde somente seu povo, por meio de votação livre, diga quem é que vai governar esse país”, disse Lula.
Não é preciso nenhum esforço do raciocínio para perceber que o povo venezuelano vive sob um regime autoritário, que persegue adversários de maneira covarde, altera a legislação de acordo com os interesses do ditador e usa a truculência contra setores da população que ousam fazer oposição a Maduro.
No encontro de líderes sul-americanos, em Brasília, alguns participantes discordaram da fala de Lula. Presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou disse ter surpreendido com a declaração do homólogo brasileiro. “Esta reunião [de líderes sul-americanos] foi antecipada, não sei se de forma planejada, por uma bilateral entre Brasil e Venezuela”, disse o uruguaio durante a cúpula organizada por Lula no Palácio do Itamaraty, em Brasília. “Fiquei surpreso quando foi dito que o que acontece na Venezuela é uma narrativa. Já sabem o que pensamos sobre a Venezuela e o governo da Venezuela”, emendou.
“Se há tantos grupos no mundo tentando mediar para que a democracia seja plena na Venezuela, para que os direitos humanos sejam respeitados e não haja presos políticos, o pior a fazer é tapar o sol com a mão”, completou Lacalle Pou.
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. Lula erra ao exaltar o ditador venezuelano, Nicolás Maduro, durante recepção em Brasília
O presidente do Chile, o esquerdista Gabriel Boric, conhecido crítico da ditadura venezuelana, também rebateu a desastrada declaração de Lula. “Não é uma construção narrativa, é uma realidade”, disse Boric a jornalistas, após a primeira etapa do encontro.
“É [uma realidade] séria, e tive a oportunidade de vê-la nos olhos e na dor de centenas de milhares de venezuelanos que vêm à nossa pátria e que exigem, também, uma posição firme e clara para que os direitos humanos sejam respeitados sempre e em todos os lugares, independentemente da cor política do governante de turno”, completou o chileno.
Os defensores de Lula alegam que a declaração é fruto de um projeto de protagonismo internacional, que o Brasil perdeu de forma clara durante o governo do golpista Jair Bolsonaro. O que se depreende da declaração de Lula é um plano ainda em seus primórdios para garantir ao Brasil um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), o que exigiria mudanças radicais no colegiado. Se de fato esse é o objetivo, não será defendendo ditaduras que o Brasil logrará êxito.
Como temos afirmado, Lula deveria ter no atual mandato uma inequívoca oportunidade de redenção, mas tudo indica que o petista está deixando a chance escapar. Sem contar o banditismo político que grassa no Congresso Nacional e cresceu de forma assustadora na gestão Bolsonaro. Dono de reconhecida habilidade política, Lula surpreende quem conhece sua trajetória.
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