(*) Marli Gonçalves
…se as coisas estão mesmo piorando. Desde a morte de Rita Lee não consigo parar de cantarolar … “Não sei se eu estou pirando ou se as coisas estão…piorando”! Não há Cristo que me faça pensar na letra correta de Mãe Natureza. Por que será? Será porque as coisas estão mesmo piorando? Ora, decepção faz isso.
Primeiro, lembro aos queridos leitores que vivo em São Paulo, Capital, e só nisso vocês já podem imaginar o angustiado sentimento que invade meu cantarolar, mesmo sendo uma otimista inveterada. Otimista, mas não ingênua, e muito menos cega e surda com tudo o que presencio, ouço, vejo. Respiro, embora isso seja modo de dizer porque o ar seco sufoca, e a visão do belo horizonte ao crepúsculo exiba uma beleza vermelha estonteante pintada pela poluição. Horizonte que cada vez mais procuro em pequeninos espaços entre prédios cada vez mais e maiores, absurdos, e que só consigo ver me pondo nas pontas dos pés.
Mamãe Natureza! Anda tomando tantas bordoadas que deve estar cambaleante esta semana com tantos golpes que vem tomando de parlamentares lá no Congresso e na Câmara Municipal daqui, aliás, vindo de tudo quanto é lado. E agora na ação e inação do Governo que acreditávamos estar afinado conosco na busca de não deixar mais passar a boiada pisando em nosso futuro. Liberaram ataques na nossa preciosa Mata Atlântica, um dos biomas que tanto lutamos pra preservar, onde vivo eu e 72% da população brasileira, concentrando 70% do PIB. Que abrange atividades essenciais, abastecimento de água, agricultura, pesca, geração de energia elétrica, turismo e lazer.
Sim, vivo na cidade, piorou; esta aqui já é e está ficando cada vez mais insuportável e entupida porque os planos diretores que são aprovados atendem a tudo, menos ao nosso bem-estar. Andem por aqui, prestem atenção nas esquinas, nas demolições, nas construções desenfreadas de prédios gigantescos destruindo qualquer memória. Agora em novas versões, de apartamentos de dimensões mínimas aos quais vêm sendo dados nomes bonitos como “studio”, “concept”, “home”, “living”, “new life”, “urban”, “residence” – cada um que leio tenho crises de espirro. No meu tempo, e talvez no seu aí também, o nome era bem menos poético: quitinetes. E essas, garanto, eram maiores do que algumas dessas celas que estão sendo vendidas e alugadas a preços exorbitantes.
Ah, prestou atenção no último anúncio do governo? Estão movendo mundinhos e fundinhos para dar “desconto” no preço de carros, que chamam de populares, embora nenhum esteja por menos de 60, 70 mil reais. Gente boa com a indústria, que coisa. Como eu sou tão ruim e posso não entender que não há, ao contrário, incentivo real dado ao incremento do transporte coletivo, à sua melhoria, novas formas de transporte, fiscalização e cuidado com as pessoas? Querem aumentar ainda mais o número de carros nas ruas, da poluição, o uso dos combustíveis fósseis, o trânsito já insuportável. Contramão, Bibibiibi! Dizem que querem renovar a frota, entre outros itens bem discutíveis para descontos tão pequenos ao consumidor, como os anunciados. Que bonito é. Mais uma sandice.
As coisas estão mesmo piorando, e piorando feio no relacionamento, na loucura das pessoas, no comportamento negacionista, hipócrita, deseducado e reacionário, e que queríamos tanto já ver mudar. Acabo de ouvir que aqui na Capital esse ano houve aumento de 720% nos casos de racismo. E em todos os campos, além dos estádios. Mulheres assassinadas? Só em São Paulo, e no primeiro trimestre deste ano, foram 62 casos de feminicídio, número todos os dias cruelmente aumentado. E estupros e assassinatos da população LGBT, e mais casos de misoginia; e a pobreza, miséria, fome, violência, outros absurdos que basta sair às ruas para presenciar. Aliás, se ficar em casa, cuidado com os golpes vindos de todos os cantos, via digital, via telefone.
Desculpem o desabafo. Aproveito para registrar a tempo a decepção – clara, visível – que grassa por aí, e alertar os caras enquanto é tempo dos rumos serem retomados.
Quero muito cantarolar outras músicas de Rita Lee. Desculpe o Auê. Ando meio desligado(a). Balada do louco (a). Ando propondo até “Nem luxo, nem lixo”: “Não quero luxo nem lixo/ Meu sonho é ser imortal, meu amor/ Não quero luxo nem lixo/ Quero saúde pra gozar no final” …
(*) Marli Gonçalves – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Site Chumbo Gordo, autora de “Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também”, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.
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