Envolvido no escândalo dos kits de robótica, Arthur Lira foi a Portugal para discutir Estado de direito

 
Ao longo de mais de duas décadas, o UCHO.INFO vem tentando mostrar aos brasileiros a importância de se interessar por questões políticas. Afinal, os direitos do cidadão passam obrigatoriamente pelas decisões tomadas no âmbito político, ao mesmo tempo em que são ameaçados por elas. Nesse período, insistimos em destacar a falta de coerência e os enormes absurdos que dominam o universo político, sem que as pessoas se preocupassem com isso.

Presidente da Câmara dos Deputados e um dos líderes do Centrão, o que há de pior na política brasileira, Arthur Lira (PP-AL) está em Portugal, onde participa de da décima primeira edição do Fórum Jurídico de Lisboa. Nesta segunda-feira (26), Lira, ao lado do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), participou do painel de abertura do evento, cujo tema era “Estado democrático de direito e defesa das instituições”.

Se há no Brasil alguém sem moral para discutir questões relacionadas ao Estado democrático de direito e à defesa das instituições, esse certamente é Arthur Lira, que ao lado de outros próceres do Partido Progressista comandou a legenda durante o esquema de corrupção que avançou sobre os cofres da Petrobras, escândalo conhecido com Petrolão.

Agora, o nome de Lira surge em novo escândalo de corrupção, desta vez envolvendo a compra de kits de robótica por preços superfaturados e entregues pelo governo federal, na gestão Bolsonaro, a escolas públicas que sequer têm acesso à internet. Em alguns casos, os tais kits continuam nas respectivas caixas, ou seja, não foram utilizados até então.

Em 1º de junho, Polícia Federal cumpriu mandados de prisão e de busca e apreensão em investigação sobre desvios em contratos para a compra de kits de robótica com dinheiro do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

Um dos mais próximos auxiliares do presidente da Câmara, Luciano Cavalcante foi alvo de mandado de busca e apreensão cumprido pela PF. Luciano estava lotado na liderança do PP na Câmara dos Deputados, mas acabou demitido depois que o escândalo veio à tona. Outro alvo da investigação é a mulher de Cavalcante, Glaucia, que também foi assessora de Lira.

 
Na ocasião, Arthur Lira tentou se desvencilhar do escândalo. “Eu não vou comer essa corda, vou me ater a receber informações mais precisas, e cada um é responsável pelo seu CPF nesta terra e neste país”, disse aos jornalistas.

O deputado alagoano ficou irritado com a ação da PF e responsabilizou o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela devassa, como se crimes não devessem ser combatidos de acordo com o rigor da lei.

À imprensa, Arthur Lira falou em “receber informações mais precisas”. Pois bem, a PF já dispões das informações que Lira tanto aguarda. Os investigadores encontraram entre o material apreendido nos endereços de Luciano Cavalcante documento com citações a Lira e uma lista de pagamentos atrelados ao nome de “Arthur”. Diante desse fato, a PF enviou a investigação ao STF.

O documento lista R$ 834 mil em valores pagos de dezembro de 2022 a março de 2023. Desse total, ao menos R$ 650 mil têm à frente do valor o nome “Arthur”. O documento destaca data, valor, destinatário do gasto e o nome a quem a despesa está atrelada. São ao menos 30 pagamentos com referência a “Arthur”.

No citado documento apreendido pela PF, constam justificativas para os repasses de dinheiro, como, por exemplo, despesas com hotéis utilizados por Lira, passando por gastos com alimentação da RO (como é chamada a residência oficial da presidência da Câmara), além de impostos, combustíveis, gastos com automóveis e até fisioterapia Benedito de Lira, pai do presidente da Câmara dos Deputados.

Como afirmamos acima, Arthur Lira não tem um grama de moral para debater questões relacionadas ao Estado democrático de direito e à defesa das instituições. Ademais, considerando que a investigação agora está no STF, o ministro Gilmar Mendes terá de se declarar impedido de participar de eventual julgamento envolvendo o presidente da Câmara. O ministro do STF tem o direito de organizar eventos jurídicos mundo afora, mas deveria ser mais cuidados ao escolher os convidados.

Em qualquer país minimamente sério, com autoridades ciosas de suas atribuições e um povo com sangue nas veias, a essa altura o Congresso Nacional estaria cercado por brasileiros indignados com a escalada da corrupção e a desfaçatez dos ditos representantes da sociedade. Ainda dá tempo de reagir!


Se você chegou até aqui é porque tem interesse em jornalismo profissional, responsável e independente. Assim é o jornalismo do UCHO.INFO, que nos últimos 20 anos teve participação importante em momentos decisivos do País. Não temos preferência política ou partidária, apenas um compromisso inviolável com a ética e a verdade dos fatos. Nossas análises políticas, que compõem as matérias jornalísticas, são balizadas e certeiras. Isso é fruto da experiência de décadas do nosso editor em jornalismo político e investigativo. Além disso, nosso time de articulistas é de primeiríssima qualidade. Para seguir adiante e continuar defendendo a democracia, os direitos do cidadão e ajudando o Brasil a mudar, o UCHO.INFO precisa da sua contribuição mensal. Desse modo conseguiremos manter a independência e melhorar cada vez mais a qualidade de um jornalismo que conquistou a confiança e o respeito de muitos. Clique e contribua agora através do PayPal. É rápido e seguro! Nós, do UCHO.INFO, agradecemos por seu apoio.