Durante depoimento que prestará à Polícia Federal na quinta-feira (10), Silvinei Vasques, ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) receberá proposta de acordo de colaboração premiada.
O objetivo principal da PF é obter detalhes de reuniões que ocorreram às vésperas das eleições entre Silvinei, assessores e Anderson Torres, então ministro da Justiça, que ao depor na CPI dos Atos Golpistas, na terça-feira (8), mentiu de forma acintosa.
Caso a proposta de colaboração premiada seja aceita por Silvinei, a PF conseguirá apurar se um auxiliar do outrora presidente Jair Bolsonaro estava diretamente envolvido na suposta tentativa de impedir que eleitores de algumas regiões votassem em Lula. Além disso, se a delação prosperar, Anderson Torres, como afirmamos em matéria anterior, corre o risco de voltar para a prisão, de onde não deveria ter saído.
Desde 2018, a PF tem autorização do Supremo Tribunal Federal (STF) para negociar e firmar acordos de colaboração premiada, prerrogativa que era exclusiva do Ministério Público.
Em 19 de outubro de 2022, Anderson Torres recebeu em seu gabinete Silvinei e dois delegados investigados: Marília Alencar e Luís Carlos Reischak. Pouco antes, a cúpula da PRF havia se reunido em Brasília, a portas fechadas e com celulares vetados, para votar uma resolução acerca da prática de educação física.
“Muito embora ainda não se possa afirmar categoricamente o que foi tratado na reunião, chama a atenção o fato da coincidência de se tratar da mesma data da reunião do Conselho Superior da PRF”, afirmou o delegado Flávio Vieitez Reis, no despacho entregue ao ministro Alexandre de Moraes, em STF, em que solicitou a prisão de Silvinei, autorizada na manhã desta quarta-feira.
Um dia antes da reunião no seu gabinete no Ministério da Justiça, Anderson Torres recebeu Marília Arraes, à época diretora de inteligência da pasta. Nesse encontro, de 18 de outubro, a delegada enviou a seguinte mensagem ao marido: “Cara, eu tô em reunião séria do Excel no GAB”. Para a PF, “Excel” é a planilha com os dados de cidades com maior número de eleitores de Lula, onde seriam realizadas as operações; e “GAB” é o gabinete do ministro Anderson Torres.
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Supostos crimes
O ex-diretor-geral da PRF é investigado pelo crime de prevaricação, quando agentes públicos faltam com o dever de servir ao interesse público para, movidos por interesses próprios, deixar de cumprir ou atrasar o cumprimento de seus deveres ou o fazendo em desacordo com a lei.
Vasques pode responder ainda pelos crimes de violência política – caracterizado pelo impedimento, por meio de violência, do exercício de direitos políticos –, bem como por impedir ou atrapalhar o exercício do voto e dificultar o deslocamento de eleitores.
Quem é Silvinei Vasques
Natural do Paraná, Vasques está na PRF desde 1995 e chegou ao comando da corporação em abril de 2021, após Bolsonaro nomear Anderson Torres para o Ministério da Justiça.
Antes de assumir a PRF, Vasques foi processado e condenado em primeira instância, em 2017, por agredir um frentista que se recusou a lavar uma viatura. Ele recorre da decisão, mas em 2022 a União foi obrigada a indenizar a vítima em mais de R$ 50 mil.
Como diretor-geral, sua gestão foi marcada por escândalos, como a participação da PRF em uma operação que deixou mais de 20 mortos na Vila Cruzeiro, Rio de Janeiro, em maio de 2022; e o assassinato em Umbaúba, Sergipe, de um homem com problemas mentais que foi trancado por agentes da corporação dentro de um porta-malas e asfixiado por bombas de gás lançadas dentro do veículo.
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