Após depoimento de hacker à CPMI, prisão de Bolsonaro só não será decretada por razões políticas

 
Durante a campanha presidencial de 2018, o UCHO.INFO afirmou reiteradas vezes que o então candidato Jair Bolsonaro, se eleito, em algum momento tentaria dar um “cavalo de pau” na democracia. Nos dois últimos anos do pior governo de todos os tempos, passamos a usar o termo “golpista” para fazer referência a Bolsonaro, que em várias ocasiões atentou contra a democracia e o Estado de Direito.

Por razões óbvias, a abduzida turba de apoiadores de Bolsonaro nos desferiram ataques sórdidos e covardes, como é típico do golpista-mor, que não aceita ser contrariado e ter sua delinquência intelectual deixada à mostra. Os mesmos que nos atacaram de forma torpe, agora se calam diante de escândalos que comprovam os nossos muitos alertas.

Em depoimento à CPI dos Atos Golpistas, no Congresso Nacional, o Walter Delgatti Neto afirmou mais uma vez ter se reunido com Bolsonaro no Palácio da Alvorada, encontro intermediado pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP, que corre o risco de perda de mandato e prisão.

Delgatti disse aos parlamentares que o então presidente garantiu um indulto caso ele fosse preso por tentativa de invasão das urnas eletrônicas. O hacker, que está preso desde a operação da Polícia Federal contra Carla Zambelli, não pensou duas vezes antes de arrastar Bolsonaro para o centro do escândalo.

“A ideia ali era que eu receberia um indulto do presidente. Ele havia concedido um indulto a um deputado federal. E como eu estava com o processo da Spoofing à época, e com as cautelares que me proibiam de acessar a internet e trabalhar, eu visava a esse indulto. E foi oferecido no dia”, declarou.

No depoimento, Delgatti disse que, em conversa com Bolsonaro, ouviu que o então núcleo duro palaciano já havia conseguido grampear Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

 
De acordo com o hacker, Bolsonaro teria sugerido que Delgatti Neto “assumisse a autoria” da ação que grampeou Moraes. Pelo que se sabe, o grampo foi feito no exterior, possivelmente encomendado pela ala mais radical do bolsonarismo.

“Segundo ele [Bolsonaro], eles haviam conseguido um grampo, que era tão esperado à época, do ministro Alexandre de Moraes. Que teria conversas comprometedoras do ministro, e ele precisava que eu assumisse a autoria desse grampo”, declarou Delgatti.

“Código-fonte” falso

O depoente revelou aos membros da CPI que, em reunião com assessores de campanha de Jair Bolsonaro, foi aconselhado a criar um “código-fonte” falso para sugerir que a urna eletrônica era vulnerável e passível de fraude.

A proposta, segundo o hacker, teria partido do marqueteiro Duda Lima em durante reunião com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, a deputada Carla Zambelli (PL-SP) e outras pessoas ligadas à parlamentar.

“A segunda ideia era no dia 7 de setembro, eles pegarem uma urna emprestada da OAB, acredito. E que eu colocasse um aplicativo meu lá e mostrasse à população que é possível apertar um voto e sair outro”, disse Delgatti.

“Eles queriam que eu fizesse um código-fonte meu, não o oficial do TSE. E nesse código-fonte, eu inserisse essas linhas, que eles chamam de ‘código malicioso’, porque tem como finalidade enganar, colocar dúvidas na eleição”, completou.

“Ordem do presidente”

Walter Delgatti Neto afirmou que estava ciente do crime que representava a invasão do sistema eleitoral, mas que agiu por suposta “ordem de um presidente da República”.

“Sim, eu sabia [que estava fazendo coisas erradas]. Lembrando que era ordem de um presidente da República. […] Então, eu estava… tanto que eu entrei em contato com a Veja [revista] e relatei isso por medo”.

As acusações de Delgatti Neto são gravíssimas e dependem de provas, algumas das quais de difícil obtenção, mas não são impossíveis. No âmbito da CPI, o hacker não fica obrigado a apresentar provas, que serão necessárias para embasar depoimento prestado à Polícia Federal, já que as acusações são as mesmas.

Indiciamento e prisão

Relatora da CPMI dos Atos Golpistas, a senadora Eliziane Gama afirmou, após o depoimento, que há elementos suficientes para o indiciamento de Bolsonaro.

É importante ressaltar que pedido de indiciamento por parte de uma Comissão Parlamentar de Inquérito depende do Ministério Público, algo que pode não avançar, como aconteceu na CPI da Covid, quando Bolsonaro foi indiciado por conta do seu negacionismo.

Em relação à eventual prisão de Bolsonaro. Também há elementos para tal, mas o STF, a quem compete decidir sobre o tema, avaliará o caso sob a ótica política, já que não se pode dar ao ex-presidente a oportunidade de se transformar em mártir e ressuscitar o bolsonarismo.


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