Não bastassem os desdobramentos do escândalo das joias da União vendidas ilegalmente no exterior, a situação de Jair Bolsonaro piorou sobremaneira com o depoimento contundente do hacker Walter Delgatti Neto à CPI dos Atos Golpistas, no Congresso Nacional.
Depois de graves acusações a Bolsonaro, o hacker disse que aceita participar de acareação com o ex-presidente para confirmar as informações prestadas durante o depoimento. Delgatti foi questionado pelo senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB) sobre a possibilidade de acareação e respondeu que sim, “de forma tranquila”. Acareação é um procedimento previsto nos códigos de Processo Civil e de Processo Penal em que são confrontadas duas pessoas que defendem versões contraditórias com objetivo de se chegar à verdade.
Entre as acusações feitas por Delgatti, está a de que Bolsonaro ofereceu a ele indulto presidencial em troca da invasão da urna eletrônica e de assumir a responsabilidade por um suposto grampo instalado para monitorar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Indulto significa perdão da pena, efetivado mediante decreto presidencial, mas que pode ser anulado pelo STF por desvio de finalidade, como ocorreu com o concedido ao ex-deputado e golpista Daniel Silveira.
O hacker afirmou ter invadido o sistema do Judiciário brasileiro a pedido da ainda deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), que nega as acusações. Delgatti afirmou também que, a pedido de Bolsonaro, orientou os militares das Forças Armadas na elaboração do relatório sobre as urnas eletrônicas apresentado em 2022 apresentado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Outra grave acusação é que Bolsonaro e o marqueteiro da sua campanha pela reeleição, Duda Lima, pediram para que o hacker servisse de garoto-propaganda em vídeo com informações falsas contra a urna eletrônica.
A relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), informou que é possível pedir a acareação de Delgatti com Bolsonaro, com o ex-ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, a deputada Carla Zambelli ou qualquer outra pessoa citada pelo hacker durante o depoimento. Para aprovar as acareações é necessário convocar requerimento em reunião deliberativa da Comissão Parlamentar de Inquérito.
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Quebra de sigilo
Alegando que as declarações de Walter Delgatti Neto são “bombásticas” e “absolutamente sérias”, a relatora da CPMI afirmou que pedirá a quebra dos sigilos telemáticos das pessoas que estiveram nas reuniões dos dias 9 e 10 de agosto de 2022, quando o hacker teria se encontrado com o então presidente Jair Bolsonaro, com o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, e o marqueteiro da campanha do ex-presidente, entre outras.
“Até para a gente poder ter os elementos substanciais acerca das informações que nós recebemos do depoente Walter Delgatti”, explicou Eliziane. Em conversa com a imprensa, a senadora acrescentou que a história de Delgatti aponta para a tentativa de se construir “uma tentativa de fraude eleitoral e substanciar uma possível aplicação de um golpe no Brasil”.
É importante destacar que Walter Delgatti nada mais tem a perder, já que está preso e eventualmente será condenado pelos crimes cometidos. Uma acareação com o ex-presidente Jair Bolsonaro pode funcionar como atenuante de uma condenação. Por outro lado, Bolsonaro não se sairá bem em um confronto com o hacker, pois cairá em contradição facilmente, já que a oratória não é sua especialidade. Em outras palavras, o castelo do golpista começou a ruir. (Fotos: Lula Marques – ABr)
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