A transferência do jogador brasileiro Neymar Jr. para o clube de futebol saudita Al-Hilal esbarra em críticas duras, também partindo da Alemanha. Em entrevista à TV BR, Paul Breitner, ex-astro do Bayern de Munique, comentou a aquisição com sarcasmo: “Muito obrigado, caros sauditas, por terem comprado o Sr. Neymar. […] Esse, a gente não precisa mais aguentar.”
De acordo com o campeão da seleção alemã de 1974, Neymar “tem sido, nos últimos anos, um dos jogadores mais mau-caráter sob o sol”, “um dos maiores atores, um que só fica simulando, só faz cena”. E completou com um insulto idiomático: “linke Bazille”. Literalmente “bacilo duvidoso”, a expressão designa uma figura falsa, desonesta, sempre escondendo suas verdadeiras motivações.
O brasileiro de 31 anos foi levado de Paris a Riad no último domingo (20) no Boeing 747 dourado do príncipe Alwaleed bin Talal Alsaud, patrono do clube Al-Hilal, para ser apresentado como superstar em um gigantesco estádio, reunindo quase 70 mil torcedores, em evento sensacionalista de luzes e fogos de artifício.
Com um contrato avaliado em 320 milhões de euros (R$ 1,7 bilhão), ele entra para a lista de aquisições do mercado da bola saudita, ao lado de Cristiano Ronaldo, Sadio Mané e Riyad Mahrez.
Observadores opinam que, turbinando sua cena esportiva emergente, o regime fundamentalista saudita está praticando o assim chamado “sportwashing” (lavagem pelo esporte), para tentar desviar as atenções mundiais de seu perfil de regime autoritário, misógino e até assassino – como no caso do jornalista Jamal Khashoggi.
Experiência pessoal com ditaduras
Lembrando que grande parte da população saudita está na faixa etária de Neymar, o entrevistador da BR perguntou: “O que eles [Ronaldo, Mané e companhia] vão fazer com o dinheiro deles lá?”, ao que Breitner respondeu apenas com um sorriso.
No entanto, o ex-lateral-esquerdo de 71 anos é cético quanto ao plano da Arábia Saudita, de limpar sua imagem internacional com eventos esportivos espetaculares e aquisições milionárias, e tampouco acredita no futuro do projeto esportivo saudita.
“Se eles agirem como os americanos nos anos 70, com a liga de opereta deles – ou seja, só comprar jogadores com quantias alucinantes – então que façam.” Mas o próprio Breitner tem experiência em como é jogar para regimes autoritários: em 1974 ele trocou o Bayern pelo Real Madrid, na Espanha então sob a ditadura de Francisco Franco.
“Durante quinze meses eu vivenciei fascismo na forma mais pura, sob Franco, com sequestros de familiares dos jogadores, assassinatos e assim por diante”, recorda o craque bávaro. Os 36 anos do regime de terror franquista chegaram ao fim em novembro de 1975, com a morte do ditador. (Com agências internacionais)
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