Discurso lendário de Martin Luther King completa 60 anos

 
(*) Courtney Tenz, Deutsche Welle

“Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!”.

Essas palavras de um discurso de Martin Luther King, proferido nos degraus do Lincoln Memorial, em Washington, em 28 de agosto de 1963, continuam a ecoar 60 anos depois.

O discurso faz parte das lições escolares, é tema de universidades, documentários, foi citado pelo ex-presidente Barack Obama, dos Estados Unidos, e tem sido usado em músicas ao longo das décadas. “I have a dream” foi um discurso de força explosiva e duradoura, mesmo 55 anos após o assassinato de seu autor.

Mas não foram apenas as palavras que influenciaram as pessoas, disse o ativista dos direitos civis John Lewis, que também discursou para o público em Washington naquele mesmo dia. Em uma entrevista à emissora de televisão PBS, o então congressista afirmou que o sucesso da mensagem ocorreu também pelo carisma único de Martin Luther King.

“O Dr. King tinha o poder e a capacidade de transformar aqueles degraus do Lincoln Memorial em um lugar monumental que será lembrado para sempre. Por meio de suas palavras, ele iluminou, inspirou e informou não apenas as pessoas que estavam lá, mas também as pessoas de toda a América – naquela época e nas gerações seguintes”, disse Lewis, que morreu em 2020.

 
Estratégia retórica

O homem que personificou o movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos era um orador brilhante e usava suas palavras com habilidade para alcançar o efeito desejado no público. Luther King era pregador e incluía alusões a sua fé cristã em seus discursos – ou citações bíblicas que eram particularmente relevantes para seu público.

“Eu tenho um sonho que um dia todo vale será exaltado, e todas as colinas e montanhas virão abaixo, os lugares ásperos serão aplainados e os lugares tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor será revelada e toda a carne estará junta”.

Ao vincular citações bíblicas com palavras de hinos nacionais americanos patrióticos, como “America”, com sua estrofe “eu canto sobre você, meu país, a doce terra da liberdade”, King criou seu próprio estilo linguístico.

Em inglês, essa técnica retórica é chamada de “voice merging”. Como se baseia em um nível mais profundo e espiritual, o efeito vai muito além do significado concreto das palavras.

O discurso “I have a dream” (Eu tenho um sonho) pode ser o mais conhecido de King, mas ele usou a estratégia retórica tanto antes quanto depois. Após sua prisão no estado americano do Alabama por desobediência civil, ele escreveu “Letter from a Birmingham Jail” (Carta de uma cadeia de Birmingham) em 16 de abril de 1963.

Nela, lê-se: “Assim como os profetas do século 17 a.C. deixaram seus vilarejos e pregaram ‘Assim diz o Senhor’, além das fronteiras de suas cidades natal. Como o apóstolo Paulo deixou sua Aldeia de Tarsos e levou o Evangelho de Jesus Cristo para os quatro cantos do mundo greco-romano, então, eu estou compelido de pregar o evangelho da liberdade além de minha cidade natal. Como Paulo, devo constantemente responder ao apelo macedônio por ajuda”.

 
O legado

Imediatamente após o discurso de 1963 no Lincoln Memorial, o ativista dos direitos civis foi vigiado pelo Departamento Federal de Investigação (FBI), que percebeu “explosivos sociais” em sua retórica. Hoje, essa mesma retórica é tema de seminários universitários. Eram as palavras certas para o público certo no momento certo. Também um documento atemporal.

Deval Patrick, o primeiro governador negro do estado de Massachusetts e o segundo governador negro eleito na história dos EUA, disse: “O discurso foi profético em sua época, assim como muitos dos discursos de King. Eles são atemporais e poéticos, um desafio – e um incentivo para nós”.

Desde o início de 2023, uma estátua de bronze de seis metros de altura homenageia Martin Luther King em Boston, cidade onde ele obteve um doutorado em teologia e conheceu sua esposa, Coretta Scott King.

O Embrace Memorial é o maior memorial de direitos civis dos EUA e foi projetado a partir de uma fotografia histórica tirada em 1964, quando King ficou sabendo que receberia o Prêmio Nobel da Paz e caiu nos braços de sua esposa Coretta.

Na inauguração do monumento, a multidão entoou: “Alegria negra! Amor negro no parque mais antigo do país!”

 

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