Sombrios & bicudos

(*) Gisele Leite

Tempos sombrios e bicudos com a eleição de Javier Milei, líder da coalizão política La Libertad Avanza, ao derrotar Sergio Massa, com apenas 55,7%. A extrema-direita assume o poder, sendo ultraconservador e franco adepto do anarcocapitalismo. Revelou reportagens recentes que para a escolha de seu gabinete utiliza a assessoria da sua irmã que joga tarô.

As posições políticas do eleito são efervescentes e polêmicas, desde a oposição ao aborto, mesmo nos casos de estupro, bem como rejeita a educação sexual nas escolas, e ainda revelou franco ceticismo com relação as vacinas contra a Covid-19, sendo apoiador da distribuição de armas de foro para a população civil e a franca legalização de comércio de órgãos humanos.

Sua vitória fora considerada inesperada e seus discursos desastrosos. O Presidente da Argentina tem especial destaque nos meios de comunicação, particularmente, desde 2014 sendo usualmente convidado para programas de televisão e de rádio para apresentar suas bizarras análises econômicas inspirado na Escola austríaca, que rejeita a intervenção estatal. Ainda em 2019, foi considerado pela Revista Notícias como uma das pessoas mais influentes da Argentina.

Apelidado de “el Peluca” (a peruca) por conta de seu excêntrico penteado, poderá levar a Argentina à bancarrota. Obteve destaque de forma agressiva nos debates quando usou linguagem chula e insultante.

Seu partido é suspeito de ter pedido aos seus candidatos que comprassem o seu lugar nas listas eleitorais por várias dezenas de milhares de dólares, no período antes das eleições gerais de 2023, sendo que muitos testemunharam tal fato.

O ajuste na economia argentina irá acarretar uma forte crise na sociedade. A paralisação do investimento público e corte em todos os orçamentos de órgãos públicos certamente irá gerar muitas demissões com majoração dos já elevados níveis de pobreza e violência social.

De fato, existem parcas possibilidades de concretização das suas propostas em face da grande fragilidade institucional de seu partido político. Sua vice-presidente é uma filha de um militar cuja carreira política centrou-se em justificar a ditadura argentina, minimizando o terrorismo de Estado e, se igualando às ações de grupos armados de esquerda.

A sua militância digital nas redes sociais baseia-se em discursos de ódio e celebram abertamente os crimes da ditadura argentina. E, o feminismo e a agenda de direitos das mulheres e da diversidade sexual são alvos de ataques sistemáticos e formam a identidade política dos setores que integram a aliança de extrema direita, entre os quais, os grupos ligados às igrejas e forças militares e de segurança, além da juventude de diversas correntes ultraliberais.

Logo em seu primeiro discurso prometeu agir rapidamente com “mudanças drásticas”. “Não há espaço para gradualismo. Não há espaço para meio termo. Não há espaço para meias medidas”, assegurou. E, ameaçou de forma pouco velada os setores que serão atacados: “Dentro da lei, tudo. Fora da lei, nada”, alertou Milei, em evidente referência às mobilizações de movimentos populares e sindicais.

O país tem uma inflação recorde desde 1991 e uma pobreza maior desde 2006.

O âmbito da sua política externa é incerto, mas a princípio não há boas notícias sobre o impulso da Argentina para espaços estratégicos como o Mercosul, a Unasul ou a CELAC. O futuro da Argentina é, realmente, sombrio, mas de qualquer forma a América Latina está diante de novos desafios que podem trair nossa tradição pacífica de resolução de conflitos.

(*) Gisele Leite – Mestre e Doutora em Direito, é professora universitária.

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