A manifestação convocada por Jair Bolsonaro, que aconteceu no domingo (25) na Avenida Paulista, em São Paulo, foi uma comédia bufa, um bloquinho carnavalesco da terceira idade, tamanha era a quantidade de idosos que viveram as agruras da ditadura militar e foram ao ato para defender o golpismo.
Em tese, o ato foi financiado pelo pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, que em discurso atacou o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), além de dizer que não teme ser preso por causa das críticas. O religioso foi além e falou em perseguição política a Bolsonaro.
Perguntado sobre a possibilidade de ser preso, Malafaia disse: “Quem está do lado da verdade, da justiça, defendendo a maior perseguição política da história do país? Jair Messias Bolsonaro, o maior perseguido político da nossa história. Ter medo de ser preso por defender a sua liberdade e do povo brasileiro? É honra pra mim. Não tenho medo de ser preso. Vergonha é se calar, vergonha é se esconder, vergonha é fugir”, declarou.
Acreditar que Malafaia custeou do próprio bolso o evento do domingo é demonstração de excessiva inocência. Caso o pastor tenha utilizado recursos da igreja e dos fiéis para financiar a manifestação na Avenida Paulista, a possibilidade de prisão é enorme.
No contraponto, a charanga golpista que tomou conta da principal via da cidade de São Paulo serviu de palco para ao mais distintos absurdos, que, por razões óbvias, foram transformados em “memes”, para a alegria dos usuários das redes sociais.
Ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro abusou da religiosidade e puxou uma oração em cima do trio elétrico, ao lado do marido golpista e de aliados políticos que defendem o golpe de Estado. O momento bizarro se deu quando Michelle abençoou o Estado de Israel “em nome de Jesus”. Primeiramente é preciso lembrar que Israel não é um estado cristão, assim como não reconhece os ensinamentos do Cristianismo, que tem Jesus Cristo como líder maior.
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Em segundo lugar, pelo que se sabe, o evento foi convocado para Bolsonaro se defender no campo do plano golpista, não para amenizar as críticas ao governo de Israel, que opera um genocídio na Faixa de Gaza, algo que pode ser classificado como Holocausto palestino. Ademais, é inconteste heresia usar em vão o nome de Jesus para abençoar um governo criminoso que já matou mais de 30 mil pessoas, na maioria crianças, mulheres e idosos.
Aproveitando o tema, algumas pessoas foram à Avenida Paulista vestidas de verde e amarelo e carregando bandeiras de Israel, algumas com um pentagrama no lugar da estrela de Davi. O pentagrama, se invertido, com as duas pontas para cima, representa o demônio. Talvez as “Tias da Zap” tenham acertado a mão na improvisação da bandeira de Israel.
Mas o delírio não parou por aí. Questionadas sobre o motivo de portarem a bandeira de Israel, muitas responderam porque são cristãs e assim como Israel. Até horas antes da patética manifestação, Israel continuava sendo um Estado judaico, ou seja, não cristão. Contestadas por causa do flagrante equívoco, as “Tias do Zap” responderam que Israel as representava por não ser socialista nem comunista. Alguém precisa explicar a essas senhoras que a manifestação convocada por Malafaia era para tratar das acusações de golpismo contra Bolsonaro e seus quejandos, não para defender o genocídio liderado por Benjamin Netanyahu.
Porém, o ápice do devaneio golpista foi protagonizado por algumas “Tias do Zap” que bailavam diante de um músico que entoava a canção “Para Não Dizer que Não Falei das Flores”, de Geraldo Vandré, espécie de hino contra a ditadura militar. As senhoras engrossaram o coro quando o músico cantou o trecho “Vem, vamos embora, que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.
Em suma, considerando a estupenda inteligência de Jair Bolsonaro e de seus bajuladores políticos, o espetáculo deprimente que teve lugar na Avenida Paulista não renegou o script do bolsonarismo. Afinal, os iguais se atraem e se reconhecem. Vade retro!
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