Em pregação farsesca e mal ensaiada, Michelle Bolsonaro tenta impor ao País uma teocracia pentecostal

 
Em 2005, o UCHO.INFO emitiu um alerta aos brasileiros em relação ao perigo que representava o avanço da bancada evangélica no Congresso Nacional. Fizemos isso porque o Estado brasileiro é laico, com estabelece a Constituição Federal de 1988, portanto a população não deve se submeter a esse ou aquele dogma religioso ou de fé.

O que à época pareceu intransigência religiosa de nossa parte, hoje mostra-se como algo que ameaça diuturnamente a democracia e a liberdade dos cidadãos. Prova maior desse perigo foi o discurso de Michelle Bolsonaro no último domingo (25), na Avenida Paulista, durante manifestação em defesa do golpe de Estado e de Jair Bolsonaro, que fracasso em seu plano golpista.

Do alto do carro de som, Michelle, ladeada por Bolsonaro e pelo pastor golpista Silas Malafaia, encenou choro nada convincente e disse, em tom de pregação, que “o Brasil é do Senhor” e o povo brasileiro é de bem e “defende os valores e princípios cristãos”.

“Por um bom tempo fomos negligentes ao ponto de falarmos que não poderia misturar política com religião, e o mal ocupou o espaço. Chegou o momento da libertação. Eu creio em um Deus todo poderoso capaz de restaurar e curar nossa nação”, disse Michelle aos apoiadores de Bolsonaro e defensores de um regime de exceção.

A Carta Magna garante a todos os cidadãos o direito à liberdade de crença, portanto Michelle Bolsonaro não pode se valer de sua opção de fé para tanger os apoiadores do marido, que está inelegível e a caminho da prisão por conta da fracassada tentativa de golpe.

Em que pese o fato de Bolsonaro descartar a hipótese de Michelle herdar seu espólio político, até porque ele é misógino e também criaria de frentes de crispação com os filhos, a ex-primeira-dama é vista nos bastidores do Partido Liberal, a começar pelo presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, como potencial candidata à Presidência da República em 2026.

Desde os tempos em que ziguezagueava pelos corredores do Congresso, época de “vacas magras”, Michelle sempre demonstrou ambição, apesar do falso viés humilde que agora destila em palanques e púlpitos de igrejas.


 
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Com base na fala do último domingo, fica claro que a intenção de Michelle Bolsonaro não é apenas turbinar o Cristianismo pentecostal, com suas encenações farsescas, mas instalar no País uma teocracia, modelo político que, como se sabe, funciona de forma ditatorial no Irã e no Afeganistão. Que ninguém pense que existe liberdade de expressão e de costumes em uma teocracia, ou seja, Michelle intenta abolir o Estado Democrático de Direito a partir da fé.

Primeiramente, a esposa do golpista não pode impor a todos os brasileiros os valores cristãos pentecostais, pois ainda vivemos em uma democracia, que pode sair de cena se a sociedade se curvar a um estelionato religioso sem precedentes no País, movimento que só perde para a bizarrice comandada pelo aiatolá Ruhollah Musavi Khomeini, ex-lider supremo do Irã.

Muito se falou nas últimas horas sobre a possibilidade de incluir no escopo das investigações da Operação Tempus Veritatis, da Polícia Federal, o discurso de Jair Bolsonaro, que se autoincriminou ao reconhecer perante os apoiadores que tinha conhecimento da minuta golpista.

Contudo, se há algum detalhe da manifestação dominical para ser tratado no âmbito da legislação penal, por certo é a pregação modorrenta de Michelle Bolsonaro, que passeou solenemente no terreno do estelionato religioso.

O artigo 171 do Código Penal é claro ao estabelecer que é crime, com pena de prisão, “obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento”.

Michelle Bolsonaro tem o direito de escolher a crença que melhor lhe convém, mas usar a religião como massa de manobra com o intuito de abduzir o eleitorado é crime flagrante. É preciso que o Supremo Tribunal Federal (STF) se debruce sobre o tema, antes que seja tarde.


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