O canal de TV da Deutsche Welle em espanhol teve seu sinal cortado na Venezuela após a exibição de uma reportagem crítica ao regime de Nicolás Maduro.
Na segunda-feira (4), Maduro chamou a DW – emissora multimídia internacional da Alemanha – de “uma emissora nazista”. O ministro venezuelano da Comunicação, Freddy Nanez, disse que a DW espalha “ódio contra a Venezuela” e difama o país. No mesmo dia, a DW teve seu sinal cortado na oferta de duas operadoras de cabo do país, de acordo com o Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Imprensa da Venezuela.
O diretor-geral da DW, Peter Limbourg, disse nesta terça-feira (5) que a retirada da emissora alemã da oferta de TV a cabo na Venezuela é um ataque à liberdade de imprensa e pediu que o sinal seja restabelecido o quanto antes.
“Pedimos veementemente ao governo venezuelano que restabeleça a distribuição do canal de TV da DW Español o mais rapidamente possível. O cancelamento da distribuição da DW é um grave ataque à liberdade do povo venezuelano de se informar de forma independente”, disse Limbourg.
A decisão das autoridades venezuelanas foi tomada após a exibição de um vídeo do novo programa “Cómo te afecta” (Como isso te afeta), que aborda a corrupção em vários países da América Latina, incluindo a Venezuela, bem como as ligações entre políticos do regime chavista e o crime organizado. O vídeo descreve a Venezuela como o segundo país mais corrupto do mundo
A emissão tem a Anistia Internacional e a Insight Crime como suas principais fontes. Num texto de rede social sobre um segmento do vídeo, afirma-se claramente que não se sabe até que ponto o próprio Nicolás Maduro está informado ou envolvido.
Após a exibição, Maduro acusou a DW de participar de “campanha” contra a Venezuela, em conluio com outros meios de comunicação ocidentais, como a rede CNN e a agência de notícias Associated Press (AP), entre outros.
O diretor-geral Limbourg rejeitou firmemente as acusações feitas por Maduro contra a emissora.
“Milhões de pessoas fugiram da Venezuela sob o regime de Maduro. Praticamente não há liberdade de imprensa. O fato de ele reagir com comparações absurdas a críticas baseadas em fatos é algo que combina com esse perfil. A difamação, a censura, os bloqueios da internet e a disseminação de informações falsas sobre a DW e suas reportagens é algo que estamos enfrentando num número cada vez maior de países. Continuaremos a fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para alcançar as pessoas que vivem sob regimes autoritários”, afirmou Limbourg.
Essa não é a primeira vez que a DW tem seu sinal cortado na Venezuela por ordem do regime chavista. Em 2019, a transmissão da emissora foi cortada por cerca de 24 horas. À época, nenhuma explicação sobre o corte foi dada pelas autoridades, que também não anunciaram oficialmente o restabelecimento da transmissão. Em 2018, a mesma situação ocorreu por cerca de uma hora, quando a DW exibia o documentário “Venezuela – A fuga de um Estado falido”, no qual o quadro econômico e político do país à época era analisado criticamente.
Outros canais também foram alvos do governo venezuelano. O serviço espanhol da CNN foi retirado do ar pelos operadores de cabo venezuelanos em 2017, depois de Maduro ter acusado o canal de fazer parte de uma “conspiração” contra o governo. Os canais colombianos Caracol e NTN24 foram retirados do ar na mesma época.
Na oferta de notícias da DW, o espanhol é o segundo idioma mais consumido, depois do inglês. O conteúdo em espanhol da DW alcança 46 milhões de usuários todas as semanas.
A oferta jornalística da DW continua disponível no site dw.com e nas redes sociais. Além disso, a transmissão ao vivo está disponível no YouTube da DW Español.
DW não está sozinha nas denúncias
Ditador que é, Nicolás Maduro não aceita que a imprensa internacional revele as barbaridades que acontecem nos bastidores do Palácio Miraflores, sede do Executivo venezuelano.
A DW não erra ao noticiar a corrupção desenfreada que corrói a economia do país, assim como o envolvimento de autoridades com o narcotráfico, assunto que incomoda sobremaneira Nicolás Maduro.
O canal alemão não está sozinho nas denúncias sobre a relação de autoridades venezuelanas com o tráfico internacional de drogas. Entre 2013 e 2017, o UCHO.INFO publicou várias matérias relatando o envolvimento de apaniguados de Maduro com o narcotráfico (links abaixo).
Em uma das matérias, publicada em novembro de 2015, noticiamos que um filho adotivo de Maduro foi extraditado para os Estados Unidos. Efraim Antonio Campos Flores foi preso na capital do Haiti pela Drug Enforcement Administration (DEA), agência antidrogas dos Estados Unidos, e pela Procuradoria Federal do Distrito Sul de Nova York com 800 quilos de cocaína, droga que seria enviada ao México e na sequência aos EUA. (Com Deutsche Welle)
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