A conta do amor

(*) Lêda Lacerda

Tem uma coisa boba que me desagrada muito. É quando você está à mesa com várias pessoas e uma delas passa a reclamar da comida que come. As demais pessoas seguem comendo e aquela pessoa segue reclamando de algo do seu desagrado. Pode ser um tempero, uma textura, um ponto da carne ou mesmo uma receita que ele mesmo pediu, mas o cara segue comendo e reclamando. Eu, nestes momentos, fico na minha e olho ao horizonte mastigando indagações.

Oras bolas, por que ele segue comendo? Por que pediu um prato apimentado se não tem paladar para tal? Por que um vegano vai a churrascaria ou vice-versa?

Sendo assim, o sujeito deixa amarga a mesa e por decorrência o prato dos demais. Isso que acontece em mesas, mas ao menos termina quando a gente se levanta. Entretanto, tem gente assim na vida.

Gente que come não gostando do sabor. Mastiga maldizendo. Ok! Tem necessidade financeira que faz a gente comer muito pão que o diabo amassou. Mas isso tem a ver com o imperativo de ao menos por pão na mesa de casa. Eu falo aqui das pessoas que cultivam flores fétidas para reclamar do odor.

Veja o caso de uma cafeteira chinesa que tive. Aquela droga simplesmente não fazia um café com mínimo de qualidade. Mas toda manhã eu tinha o desprazer de fazer café nela e reclamar da água suja que me servia. Eu começava o dia com aquele desgosto na boca e não fazia nada além de reclamar. Um dia parei, pensei, joguei aquele treco pela janela e comprei uma das boas, que me serve algo que posso chamar de café.

Com essa simples mudança no começo do meu dia, muito mudou para melhor na minha vida. Mas perdi aquela reclamação matinal. Esse relato que faço de um artefato medíocre, agora eu levo para a relações humanas e de casais. Quantos pessoas não param de maldizer seus parceiros? Quantos não escrutinam defeito no outro para ter assunto? Oras, quantas almas gêmeas não são vandalizadas por uma língua afiada?

Eu aprendi que amar é dar desconto.

Amar é assimilar coisas. A pimenta, a frieza, a dureza, o ponto da carne. Você pode pedir uma outra passada na carne, deixar menos crua. Mas não pode pedir para a carne virar alface. Tem restaurante para todos os gostos e bolsos, não faça como os chatos à mesa. Faça como diz aquela frase: “Você tem que aprender a levantar-se da mesa quando o amor não está mais sendo servido”.

(*) Lêda Lacerda – paulistana, estudou no Colégio Rio Branco e formou-se em enfermagem pela USP. Sempre se interessou por moda e nas horas vagas por escrever sobre experiências de vida. Anos mais tarde, ingressou profissionalmente no universo da moda, tendo também se dedicado à formação de modelos e atores. A paixão pela escrita permanece até hoje, hobby que usa para traduzir em letras a emoção e o amor que marcam seu cotidiano.

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