Por ocasião do episódio futebolístico que ficou conhecido como “Maracanaço”, quando a seleção brasileira perdeu a Copa do Mundo de 1950 para os uruguaios, em pleno Estádio do Maracanã, o jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues criou a expressão “complexo de vira-lata”, em referência ao trauma sofrido pelos torcedores verde-louros.
O conceito do “complexo de vira-lata”, segundo o próprio Nelson Rodrigues, não estava circunscrito ao esporte bretão. “Entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima”, afirmou o jornalista.
Quase três quartos de século depois da tragédia do Maracanã, o complexo de vira-lata está mais vivo do que nunca. Isso porque alguns políticos defensores do golpe de Estado, que, como disse Nelson Rodrigues, são “narcisos às avessas”.
É o caso do senador bolsonarista Eduardo Girão (Novo-CE), que, em nauseante demonstração de subserviência ao empresário Elon Musk, discursou em inglês no plenário do Senado para agradecer o apoio do dono da rede X (antigo Twitter), à “liberdade de expressão”.
Na terça-feira (9), Girão afirmou que a posição de Musk “contra decisões autoritárias são um reforço para o retorno da democracia no Brasil”. Para o parlamentar, o brasileiro está “sufocado pelo medo” e as críticas do empresário a Moraes “servem como uma chama de esperança”.
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Na publicação em que compartilhou o vídeo, na plataforma X, o senador cearense reforçou o convite ao Musk e ao jornalista Michael Shellenberger, que revelou o “Twitter Files Brazil”, para participarem da audiência pública da Comissão de Segurança Pública que discutirá as acusações contra o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que constam nos documentos.
“Ficaríamos honrados em ter vocês para falar sobre os escândalos de arquivos do Twitter que expõem a censura política em nosso país”, escreveu Girão.
Radical de direita, histriônico e visando “lacrações” nas redes sociais, Eduardo Girão envergonha o Brasil com postura submissa e que atenta contra a democracia e o Estado de Direito.
Como parlamentar, Girão deveria fazer um curso intensivo de interpretação de texto para compreender o que estabelece a Constituição Federal de 1988 acerca do direito à liberdade de expressão, que não representa senha para o cometimento de crimes, em especial ataques à democracia. É importante ressaltar, mais uma vez, que nenhum direito é absoluto.
Girão deveria sugerir ao tutor Elon Musk – afinal estamos a tratar do complexo de vira-lata – que use a plataforma X para ameaçar as conhecidas ditaduras da China e da Arábia Saudita. Por maior que seja sua fortuna, Musk não tem coragem suficiente para tal.
Resumindo, o Senado Federal, que em priscar eras orgulhava os cidadãos, hoje não passe de um ajuntamento de oportunistas que fazem do mandato eletivo um trampolim para seus próprios interesses.
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