Em outubro de 2022, quando, de arma em punho, perseguiu nas ruas do Jardim Paulista, bairro da cidade de São Paulo, um eleitor do presidente Lula, a deputada federal bolsonarista Carla Zambelli (PL-SP) deu a impressão de ser corajosa, mas ao mesmo tempo intolerante e irresponsável.
Agora, com a suposta coragem escondida debaixo da alcatifa do ódio, Zambelli classificou como “injustiça” a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de condená-la a 10 anos de prisão por invadir o sistema de informática do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), com a participação do hacker Walter Delgatti Neto, também condenado na mesma ação penal.
A deputada afirmou que não sobreviveria na prisão. De acordo com a parlamentar, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos), teria dado “sinal verde” ao líder do PL na Casa, Sóstenes Cavalcante, para que seja pautada a suspensão da ação penal.
“Ainda que seja injusta a decisão, eu vou seguir a decisão. Então eu sigo a lei, eu sigo ordem judicial. Se acontecer de ter a prisão, eu vou me apresentar para a prisão. Mas eu hoje não me vejo capaz de ser cuidada da forma como eu tenho que ser cuidada, com cuidados constantes”, afirmou Carla Zambelli durante coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira (15), na sede do PL em São Paulo.
Zambelli alegou ser portadora da síndrome de Ehlers-Danlos (SED), grupo de doenças hereditárias que afetam o tecido conjuntivo, responsável por sustentar e conectar as partes do corpo.
Ela também afirmou sofrer da síndrome hipercinética postural ortostática, condição que causa aumento excessivo da frequência cardíaca ao passar da posição deitada para a posição em pé que. Zambelli destacou que toma medicamentos para tratar depressão.
“Eu estou pegando vários relatórios dos meus médicos e eles são unânimes em dizer que eu não sobreviveria na cadeia. Então, a gente deve apresentar isso em momento oportuno”, disse.
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Durante a entrevista, um de seus assessores interrompeu a deputada para lhe entregar medicamentos. Segundo o assessor, Zambelli tomou os comprimidos naquele momento por ter esquecido, não porque estava em frente às câmeras.
Quando ameaçou com arma de fogo um eleitor de Lula, a deputada bolsonarista não demonstrou sofrer de qualquer síndrome, assim como não aparentou lutar contra depressão. Diante da condenação, Zambelli recorre à vitimização, possivelmente inspirada pelo golpista Jair Bolsonaro, que abusa dos efeitos colaterais do ataque a faca de que foi alvo em 2018.
Julgamento
Na quarta-feira (14), 0 ministro Luiz Fux, do STF, votou para condenar a deputada federal pela invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O voto de Fux concluiu o julgamento realizado na Primeira Turma. Zambelli foi condenada por unanimidade a dez anos de prisão, além da perda do cargo de deputada federal.
De acordo com Zambelli, “seria muita burrice” participar do crime em questão. “E eu não colocaria o meu mandato em risco por causa de uma brincadeira. Uma brincadeira sem graça”. Para a Procuradoria-Geral da República (PGR), Zambelli “comandou” e ajudou no “planejamento” do ataque cibernético. O hacker Walter Delgatti confessou os crimes.
O criminalista Daniel Bialsky, que defende Zambelli, afirmou que entrará com embargo de declaração assim que o acórdão for publicado. O advogado criticou o julgamento do STF em formato virtual. Segundo a defesa, ele gravou um vídeo rebatendo pontos da acusação e reclamou que o material foi analisado somente pelo ministro relator, Alexandre de Moraes.
Os embargos de declaração – recurso processual utilizado para solicitar ao juiz ou ao tribunal o esclarecimento de pontos obscuros, contraditórios ou omissos de uma decisão judicial – podem adiar o trânsito em julgado da decisão em algumas semanas. Porém, a possibilidade de alterar a condenação é nula.
A eventual prisão de Carla Zambelli precisará de autorização da Câmara dos Deputados. No tocante à perda do mandato, que consta da sentença condenatória proferida pelo STF, ocorreria ao fim do processo, com a declaração a cargo da Mesa Diretora da Câmara.
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