Os integrantes da cúpula golpista, liderada por Jair Bolsonaro, alimentavam a expectativa de que algumas acusações seriam atenuadas na esteira dos depoimentos dos ex-comandantes do Exército e da Força Aérea Brasileira (FAB) ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Contudo, a esperança foi pelos ares.
Ex-comandante do Exército, o general Marco Antônio Freire Gomes tentou distorcer o conteúdo do depoimento prestado à Polícia Federal, mas advertido por Moraes acabou mantendo o discurso original, mesmo que com algumas inverdades. Sob pena de responder criminalmente por falso testemunho, Freire Gomes decidiu abandonar os golpistas à própria sorte.
Nesta quarta-feira (21), tenente-brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista Júnior confirmou, em depoimento a Alexandre de Moraes, que Freire Gomes ameaçou prender Jair Bolsonaro, em caso de decretação da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para evitar a posse de Lula. O alerta foi feito em uma reunião no Palácio da Alvorada em novembro de 2022.
“General Freire Gomes é uma empresa polida. Não falou com agressividade, mas é isso que ele falou: ‘Se o senhor fizer isso, vou ter que te prender’. Foi algo assim”, disse Baptista Junior.
“Não é uma coisa simples se esquecer do general tratando de uma hipótese de prisão. Não foi ordem de prisão como vi na imprensa, foi hipótese. A minha palavra eu mantenho: por educação, ele disse ao presidente que por hipótese teria que prendê-lo”, explicou.
Baptista Júnior afirmou no depoimento que o almirante Almir Garnier, então comandante da Marinha, colocou suas tropas à disposição de Bolsonaro para levar a cabo o projeto golpista.
Sobre a reunião com Bolsonaro realizada em novembro de 2022, o ex-comandante da FAB declarou: “O almirante Garnier não estava na mesma sintonia, na mesma postura que o general Freire Gomes. Em uma dessas reuniões, chegou a um ponto em que ele falou que as tropas da Marinha estariam à disposição do presidente”.
Em dezembro de 2022, de acordo com Baptista Júnior, Bolsonaro mostrou aos comandantes militares uma “minuta” de golpe, cujo objetivo era a realização de novas eleições e a prisão de autoridades do Judiciário. O documento foi apresentado pelo então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira. O ex-comandante da FAB e o general Freire Gomes se colocaram contra a proposta.
“O ministro Paulo Sérgio disse ‘trouxe aqui um documento para vocês’. Não me lembro se era Estado de Defesa ou Estado de Sítio. Perguntei: esse documento prevê impedir a assunção do presidente eleito? Ele disse ‘sim’. Eu disse: ‘não admito sequer receber esse documento. Não ficarei aqui’”, declarou.
É fato que o cerco se fecha no entorno da cúpula golpista. A Constituição garante que o réu não é obrigado a produzir provas que o incriminem, mas qualquer divergência em relação aos depoimentos de Freire Gomes e Baptista Júnior levará a uma acareação. Neste caso, o réu também pode permanecer em silêncio, mas tal postura poderá reforçar a acusação.
Se o cenário para a cúpula golpista já era desfavorável, a decisão da Primeira Turma do STF de tornar réus nove militares do Exército e um policial federal comprometeu a defesa dos acusados pela fracassada tentativa de golpe de Estado.
O melhor que Jair Bolsonaro pode fazer, de forma antecipada, é aceitar a ideia de que em breve terá a chance de contemplar o nascer do astro-rei de forma geometricamente distinta.
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