Paulo Sérgio compromete Bolsonaro ao dizer que alertou ex-presidente sobre minuta do golpe

Encerrada a etapa de interrogatórios no escopo do “núcleo 1” da trama golpista, os advogados dos réus deixaram o Supremo Tribunal Federal (STF) com a sensação de que o resultado foi positivo. Os defensores de Jair Bolsonaro, líder da fracassada tentativa de golpe de Estado, disseram a interlocutores que o resultado do interrogatório foi bom.

Diferentemente do que afirmaram os criminalistas, a opinião de integrantes de tribunais, em Brasília, foi na direção oposta. Durante evento político na capital federal, magistrados e juristas classificaram os depoimentos como vergonhosos. Disseram também que todos os responsáveis pela trama golpista serão condenados à prisão.

Na esteira da covardia e da mitomania, Bolsonaro tentou manter a calma durante as respostas ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, mas as inverdades pronunciadas pelo ex-presidente foram tão acintosas, que a probabilidade de condenação cresceu de forma exponencial. Além disso, Bolsonaro comportou-se como se estivesse no botequim da esquina mais próxima. Sem contar que correu o risco de ser admoestado por Moraes em razão de colocações marcadas pelo deboche.

Se ao final do interrogatório de Bolsonaro seus advogados respiram com certa dose de alívio, tudo foi pelos ares com o depoimento do general da reserva Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, ex-ministro da Defesa, que disse ter alertado o então presidente sobre o perigo que representava a minuta do golpe.

“Depois que terminou a reunião, eu cheguei ao presidente, o [comandante do Exército] Freire Gomes estava do meu lado. Alertamos da gravidade se ele estivesse pensando em estado de defesa e estado de sítio. Foi uma tempestade de ideias sobre ações futuras que viessem a acontecer caso as coisas fossem à frente”, disse o ex-ministro.

Paulo Sérgio disse no interrogatório que passou a se preocupar com possíveis medidas a serem adotadas por Bolsonaro. A apreensão, disse o ex-ministro, aumentou no vácuo dos pedidos de intervenção militar que tomou os acampamentos em frente aos quartéis, da turbulência das mídias sociais e de carta dos oficiais da ativa que pressionavam o chefe do Exército a apoiar um golpe de Estado.

O general da reserva disse que por esse motivo convocou os chefes das Forças Armadas para uma reunião em 14 de dezembro de 2022, na sede do Ministério da Defesa. “Eu temia uma fissura. Até mesmo dentro dos três comandantes das Forças eu queria uma unidade, preservar a coesão e a disciplina”, declarou.

O ex-ministro declarou ter visitado Bolsonaro no dia seguinte à reunião com os comandantes militares para confirmar que as Forças Armadas não embarcariam em uma aventura.

Na condição de réu, Paulo Sérgio não tem a obrigação de falar a verdade, ao contrário das testemunhas, mas suas palavras comprometeram sobremaneira a difícil situação de Bolsonaro, que no interrogatório também tentou destilar algumas doses de falso bom-mocismo.

No contraponto, Bolsonaro negou que tenha discutido planos de dar um golpe após ser derrotado na tentativa de reeleição, alegando que apenas debateu alternativas dentro da Constituição com os chefes das Forças Armadas, sem especificar com qual objetivo, mas que logo abandonou a ideia. Uma declaração patética e mentirosa.

Na segunda-feira (9), ao ser interrogado, Mauro César Barbosa Cid, delator e ex-ajudante de ordens da Presidência, afirmou que Bolsonaro leu a minuta do golpe, reduziu o conteúdo do documento e solicitou mudanças no texto.

Amparado pelo direito à não autoincriminação, Jair Bolsonaro pode mentir à vontade e distorcer fatos, mas deve arcar com as consequências desse comportamento. Por outro lado, Mauro Cid tem o dever, como réu colaborador, de dizer somente a verdade, sob pena de o acordo de colaboração premiada ser anulado. Talvez seja o caso de fazer uma acareação entre ambos.

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