Investigada na Operação Lava-Jato por envolvimento no Petrolão, o maior escândalo de corrupção da História, a Camargo Corrêa vendeu à vista, por R$ 2,7 bilhões, sua participação majoritária na Alpargatas, fabricante das Havaianas, para a J&F Investimentos. De propriedade dos irmãos Joesley e Wesley Batista, a J&F controla a JBS, a maior processadora de proteína animal do mundo.
Nos últimos meses, a Camargo Corrêa vinha flertando com vários fundos de investimento para se desfazer da participação na Alpargatas (44,12%), mas a J&F acabou fazendo oferta que permitiu abocanhar em poucos dias o rentável negócio. O investidor Silvio Tini de Araújo e sua holding Bonsucex têm, juntos, cerca de 20%, sendo que o restante das ações é negociado no mercado financeiro.
Fundado em 1939, a partir de uma construtora, o grupo tem dívidas bilionárias, que subiram de patamar depois da Lava-Jato, com cujas autoridades os principais executivos envolvidos no escândalo selaram acordo de delação premiada. Fora isso, o grupo também fechou acordo de leniência, com o compromisso de devolver R$ 804 milhões aos cofres públicos.
Além de se desfazer do controle da Alpargatas, o grupo Camargo Corrêa busca no mercado investidores para a InterCement, empresa de cimento. Com amplo leque de negócios, o grupo é dono do Estaleiro Atlântico Sul (EAS), que passa por reestruturação, e tem participações na concessionária CCR (rodovias) e na empresa de energia CPFL.
Entre os interessados que a J&F derrotou pelo negócio está a dupla Tarpon-Península, união do fundo de investimento com a empresa que administra os negócios do empresário Abílio Diniz. Ambos [Tarpon e Península] são sócios da BRF, o maior concorrente da JBS no setor de alimentos processados.
Ao entrar na indústria da moda e do varejo, a J&F ganha viés multissetorial, deixando de lado o rótulo de empresa do agronegócio. Já atuando nas áreas de alimento (JBS), celulose (Eldorado) e financeiro (Banco Original), o J&F entra no segmento de moda com a aquisição do controle da Alpargatas.