Prefeito do Rio de Janeiro, o peemedebista Eduardo Paes é o que se pode chamar de político bufão. E considerando a importância e a história da capital fluminense, Paes não poderia estar no cargo. Acostumado às bizarrices discursivas, como se estivesse com o umbigo encostado em uma das muitas barracas que se espalham pela orla carioca, Eduardo Paes sabe que sua passagem pela administração da Cidade Maravilhosa será avaliada em breve como pífia.
Em entrevista à rede de televisão CNN, dos Estados Unidos, Paes tentou fugir do fiasco em que pode se transformar a Olimpíada do Rio e culpou o governo estadual pelo caos que se instalou na segurança pública. “Esse é o assunto mais sério do Rio, e o Estado está fazendo um trabalho terrível, horrível. O governo está falhando completamente em seu trabalho de polícia, em tomar conta da segurança pública”, disse o alcaide à rede televisiva norte-americana.
A fala oportunista de Eduardo Paes provocou não apenas um mal estar no Palácio do Planalto, que enviou com urgência ao Rio de Janeiro autoridades para tratar da segurança durante os Jogos Olímpicos, mas um claro constrangimento na cúpula do PMDB fluminense. Afinal, nos últimos dez anos a segurança pública do Estado esteve a cargo do PMDB, com Sérgio Cabral Filho e Luiz Fernando Pezão no comando do Palácio Guanabara. E ambos são aliados de primeira hora de Paes.
Na manhã desta terça-feira (5), Eduardo Paes participou da cerimônia da contagem regressiva para os Jogos Olímpicos, evento esportivo que, a exemplo dos Pan 2007 e da Copa do Mundo de 2014, o Brasil não tem condições de recepcionar. E o prefeito sugeriu aos turistas que não esperem encontrar no Rio de Janeiro uma cidade como Londres ou Nova York. Ou seja, ele próprio reconhece o fiasco político-administrativo que representa.
“O movimento olímpico que tinha uma elitização, quando os jogos vêm para o Rio, sofreu uma deselitização por causa dos problemas que o nosso país, cidade tem. Foi uma ótima oportunidade para transformar a cidade do Rio. Eu tenho muito orgulho do meu país e da minha cidade. O Brasil passa por uma crise política e econômica. Mas o Brasil tirou muita gente da pobreza e tem ajudado muita gente. O que nos fez sensibilizar o comitê olímpico internacional foram as mazelas do Rio de Janeiro. Nós mostramos cenas de deslizamentos, enchentes, engarrafamentos e foi essa a razão da gente ter ganhado para ser sede. A gente pede para que as pessoas não venham para cá esperando Chicago, Nova Iorque ou Londres. Comparem o Rio com o Rio”, afirmou Eduardo Paes.
Sobre as críticas à sua declaração à CNN, Paes tentou minimizar o episódio culpando aqueles que viram em sua fala algo negativo e irresponsável. “Você tem as viúvas de plantão, os urubus, as aves de rapina que querem sempre jogar para baixo. Mas faço um apelo para a população: vamos viver um momento muito especial. Estamos enfrentando desafios, momentos difíceis no campo político, pessoas com direito a protestar. Mas vamos viver um momento muito especial”, disse.
Em setembro de 2010, quando os bandoleiros da FIFA estavam a escolher a sede temporária da entidade para a Copa de 2014, as duas maiores cidades brasileiras estavam no páreo: Rio de Janeiro e São Paulo. Na ocasião, Paes levou o secretário-geral da FIFA, Jérôme Valcke, para um voo panorâmico sobre a Cidade Maravilhosa e ao retornar, apontando para a Baía da Guanabara, disparou: “Chinelada na paulistada. É humilhante… Mostro a vista e mostro um negócio desses. Vai levar o que pra São Paulo?”.
Para a sorte dos paulistanos a maior e mais importante cidade do País não foi escolhida para sediar temporariamente a FIFA. Afinal, a Pauliceia Desvairada tinha – como ainda tem – problemas demais para administrar.
Contudo, comparando as duas declarações de Eduardo Paes – a de 2010 e a de agora – é fácil perceber que o atual prefeito do Rio reconhece o fracasso da sua gestão como comandante dos cariocas. Em outras palavras, a fanfarrice discursiva de Paes passou dos limites.