A vitória do “não” no referendo sobre uma reforma constitucional na Itália, a primeira desde 1948, levou o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, a confirmar sua renúncia no domingo (4), além de levantar uma série de especulações a respeito do futuro da União Europeia. Políticos europeus, no entanto, reagiram de forma menos alarmista ao resultado da consulta popular.
Logo após as pesquisas de boca de urna indicarem a derrota da proposta de reforma, o presidente francês, François Hollande, manifestou empatia por Renzi. Em comunicado, El afirmou respeitar a decisão do premiê italiano, além de congratulá-lo pelo “dinamismo e qualidades colocadas a serviço de reformas corajosas” para seu país. Hollande acrescentou desejar “que a Itália encontre nela mesma os recursos para superar esta situação”.
Assim como François Hollande, outros líderes europeus tentaram dissipar os temores de uma possível instabilidade política advinda da saída de Renzi. “Não vejo nenhuma derrota para a Europa”, disse à agência de notícias DPA o ministro do Exterior de Luxemburgo, Jean Asselborn.
“A Itália votou sobre uma reforma. Seria errado aplicar isso ao nível europeu. Foi um debate político interno.” No entanto, “para o euro, será ruim se a crise no governo [italiano] se arrastar por muito tempo”, ressalvou Asselborn.
Eurodeputado do Partido Verde alemão, Sven Giegold de igual modo recusou-se a interpretar o “não” dos italianos como um “não” à Europa: “Não misturem as coisas”. Os membros de sua sigla responsabilizam Renzi pelo fracasso da reforma constitucional.
Por sua vez, Marine Le Pen, líder da legenda populista da ultradireita francesa Frente Nacional (FN), parabenizou os italianos pela votação, associando o resultado a uma rejeição ao bloco europeu. Esse discurso é equivocado, pois foi elaborado para favorecer a campanha de Le Pen.
Pouca repercussão nos mercados
Os temores de uma eventual instabilidade política decorrente do referendo italiano não parecem ter se confirmado no mercado global. O próprio euro sofreu uma queda apenas temporária.
Após a divulgação do resultado parcial na Itália, a moeda europeia caiu nas primeiras horas de segunda-feira para o seu menor valor em 20 meses. Contudo, quando Renzi confirmou que deixaria o cargo em consequência do referendo, o euro voltou a se recuperar. Em Tóquio, o índice Nikkei caiu apenas 0,82%.
Economistas alemães também tentaram dissipar os receios no campo econômico. “Eu não falaria de uma crise do euro hoje”, disse à agência Reuters o economista Thomas Gityel, do Banco VP. “A Itália deverá optar por um governo de tecnocratas como resultado do referendo, e isso não é necessariamente ruim, já que tais governos muitos vezes alcançaram mais na Europa do que os tradicionais.” (Com agências internacionais)