Para minimizar as seguidas trapalhadas que emanam da Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e sua horda de seguidores insistem na pífia tese das “fake news”, como se criticar o chefe do governo norte-americano fosse um crime hediondo.
Por mais que Trump tente usar sua truculência verbal e comportamental parta intimidar críticos e adversários, a onda de mitomania parte de dentro da própria equipe de governo, cujos integrantes começam a tropeçar em escândalos e mentiras.
O mais alvo dessa lufada de mentiras é o procurador-geral dos EUA (equivalente a ministro da Justiça), Jeff Sessions, que mentiu de forma desavergonhada ao negar encontros com diplomatas russos. O jornal “The Washington Post” revelou que Sessions reuniu-se com o embaixador russo Sergey Kislyak em julho e setembro de 2016, ou seja, durante a campanha presidencial, ao contrário do que ele afirmou no Senado durante a aprovação do seu nome para a Procuradoria-Geral.
Em janeiro passado, sob juramento, Jeff Sessions declarou: “Eu não tive uma comunicação com os russos”. O procurador-geral tornou-se alvo, em questão de horas, de duras críticas por parte de republicanos e democratas, que exigem seu afastamento sob a alegação de que o mesmo não poderá comandar as investigações sobre a interferência russa na eleição presidencial norte-americana.
Donald Trump, sempre escorregadio e mentiroso, alegou que ficou sabendo dos encontros de Sessions somente agora. Essa postura de Trump é marcada pela covardia, pois o presidente sabe que o desenrolar deste escândalo pode lhe custar o cargo. Contudo, Jeff Sessions, que assessorou Trump durante a campanha em questões de política externa, não agiria de forma deliberada sem a autorização do então candidato republicano.
Em um comunicado, Sessions afirmou que nunca se reuniu “com autoridades russas para discutir temas da campanha”. “Não tenho ideia sobre o que é esta acusação. É falsa”, completou.
A Casa Branca, por sua vez, confirmou os encontros de Jeff Sessions, mas garantiu que o agora procurador-geral nada fez de errado. Ao mesmo tempo, a assessoria de Trump classifica as revelações do “The Washington Post” como um novo “ataque” dos democratas contra o governo. Ou seja, a Casa Branca está recheada de inocentes bem intencionados.
“Sessions se reuniu com o embaixador em sua função oficial de membro da Comissão das Forças Armadas no Senado, o que é completamente coerente com seu testemunho”, afirmou uma fonte da Casa Branca. “É um novo ataque dos democratas contra a administração Trump”, completou.
Representantes democratas cobram do Congresso uma investigação independente para esclarecer a eventual interferência da Rússia na campanha eleitoral de 2016. “Dadas as declarações falsas de Sessions sobre os contatos com as autoridades russas, precisamos de um comitê especial para investigar os laços entre a Rússia e os membros da equipe de Trump”, afirmou o senador democrata Ron Wyden, membro da Comissão de Inteligência da Câmara de Representantes.
Nancy Pelosi, líder dos democratas no Congresso, foi além e pediu a renúncia imediata de Jeff Sessions. “O secretário de Justiça deve renunciar por ter mentido sob juramento ao Congresso”, declarou Pelosi.
Ultraconservador, Jeff Sessions, de 70 anos, foi o primeiro senador republicano a declarar apoio a Trump nas primárias do partido para a presidência. Sempre radical em seus comentários e atitudes, Sessions, por ocasião do escândalo envolvendo Bill Clinton e Monica Lewinski, disse que o ato de mentir de um presidente configurava um crime gravíssimo. Agora ela comete o mesmo crime, mas a Casa Branca tenta culpar os adversários políticos.
A imprensa norte-americana afirma que integrantes do staff da campanha de Trump estabeleceram contatos com membros do serviço secreto russo antes da eleição de 8 de novembro. O serviço secreto dos EUA afirma categoricamente que os russos interferiram na eleição presidencial, mas Trump considera normal o encontro de Sessions com Sergey Kislay.
Se esse escândalo tivesse sido protagonizado por um integrante do Partido Democrata, os republicanos já teriam promovido um ensurdecedor barulho em Washington. Como o radical Sessions é um estafeta do “Senhor do Universo”, nada há de acontecer.
Donald Trump é um milionário bufão que aposta no vale tudo para alcançar seus objetivos. E foi na esteira dessa receita que, mentido ao eleitorado de forma escancarada, chegou à Casa Branca. Sem ter como cumprir as absurdas promessas de campanha, o magnata usa seus arrufos como escudo para as sandices oficiais.