O número de pessoas forçadas a deixar suas regiões de origem devido a conflitos armados, crise, violência generalizada ou perseguição atingiu o recorde de 68,5 milhões no ano passado, segundo levantamento divulgado nesta terça-feira (19) pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur).
Trata-se da maior cifra contabilizada pela agência da ONU desde a sua fundação, em 1950, e do quinto recorde consecutivo. São quase 3 milhões a mais do que os 65,6 milhões de deslocados registrados em 2016.
“Este número é o resultado de guerras prolongadas, da falta de solução para crises que ainda continuam, da pressão contínua sobre civis em países com conflitos que os obrigam a deixar seus lares e de crises novas ou agravadas como a dos rohingyas ou a que acontece na Venezuela”, disse em entrevista coletiva o alto comissário da ONU para os refugiados, o italiano Filippo Grandi.
O relatório anual “Tendências Globais” revela que, dos 68,5 milhões de pessoas deslocadas à força no planeta, 25,4 milhões são refugiados – número superior à população da Austrália. Foram 2,9 milhões a mais do que em 2016 e o maior aumento anual registrado pelo Acnur. Outros 40 milhões são deslocados internos, e 3,1 milhões são solicitantes de refúgio, que ainda aguardam o resultado de seus pedidos.
Grandi afirmou que, como em anos anteriores, 85% desses 68,5 milhões de pessoas deslocadas à força estão em países em desenvolvimento ou de renda média, o que teoricamente “deveria dissipar a percepção tão dominante em muitos países que a crise de refugiados é uma do mundo rico”.
O documento destaca também o aumento da população de refugiados em países europeus, com a chegada em massa de pessoas ao continente em 2015 e 2016. Na Alemanha, a população de refugiados cresceu 45%.
Média 44,4 mil novos deslocados por dia
Em 2017, 2,7 milhões de pessoas foram registradas como novos refugiados, duas vezes mais do que um ano antes. Elas incluem principalmente sul-sudaneses, sírios, rohingyas, centro-africanos, congoleses, burundineses, eritreus, sudaneses, nigerianos, malineses e somalis.
Cerca de 16,2 milhões de pessoas foram deslocadas pela primeira vez no ano passado, incluindo 11,8 milhões de deslocados dentro das fronteiras do seu próprio país e 4,4 milhões de refugiados e solicitantes de refúgio.
De acordo com o Acnur, a cada dia, em média, 44,5 mil pessoas se transformam em novos deslocados. Ao mesmo tempo, muitas outras pessoas retornaram para seus países ou áreas de origem para tentar reconstruir suas vidas.
Cerca de 70% vêm de dez países
Filippo Grandi ressalta que 70% dos deslocados forçados vêm de apenas dez países, o que “significa que, se houvesse soluções para os conflitos naquelas nações, o número global poderia começar a cair, mas não vimos nenhum sinal de progresso na hora de forjar a paz em nenhum destes dez estados”.
Tal como nos anos anteriores, a Síria continuou a ser o país com mais deslocados à força do mundo, com 12,6 milhões no final de 2017, dos quais 6,3 milhões eram refugiados, 146.700 solicitantes de refúgio e 6,2 milhões deslocados internos.
A Colômbia tinha a segunda maior população de deslocados, com 7,9 milhões de vítimas do conflito que durou mais de 50 anos, dos quais 7,7 milhões foram deslocados internamente.
O país sul-americano é seguido pela República Democrática do Congo (RDC), que está imersa em um frágil processo de paz e conta com várias frentes abertas, que causaram milhares de mortes e provocaram o deslocamento forçado de 5,1 milhões de congoleses, 4,4 milhões deles internamente.
Os afegãos (4,8 milhões), sul-sudaneses (4,4 milhões), iraquianos (3,8 milhões), somalis (3,2 milhões), sudaneses (2,7 milhões), iemenitas (2,1 milhões), nigerianos (2 milhões) e ucranianos (2 milhões) são aqueles que completam a lista de dez países com maior número de deslocados à força.
Bangladesh e a crise de Myanmar
De acordo com Grandi, uma região especialmente problemática em 2017 foi Bangladesh. O país abriga hoje quase 1 milhão de refugiados rohingyas, depois que 655.500 pessoas da minoria muçulmana fugiram de Myanmar no ano passado, em meio à escalada do conflito entre o Exército e um grupo de rebeldes que atua no norte do país.
Entre as crises de destaques de 2017, o alto comissário da ONU também inclui a “deterioração das condições na Venezuela”, país que abandonou nos últimos anos mais de 1,5 milhão de cidadãos.
Em 2017, os venezuelanos enviaram 111.600 solicitações de refúgio no mundo, número que está apenas atrás dos afegãos, sírios e iraquianos. O número é mais de três vezes superior aos 34.200 de pedidos registrados em 2016 e quase 11 vezes o observado em 2015. (Com agências internacionais)