Que a família Bolsonaro jamais nutriu apreço pela democracia não é novidade, mas é preciso ressaltar que o atual presidente da República assumiu o posto com a promessa de cumprir e respeitar a Constituição Federal, o que, de chofre, enseja não violar o Estado Democrático de Direito.
Beira a irresponsabilidade esperar algo em prol da democracia e da liberdade de alguém que homenageia ditadores e exalta a memória de torturadores. Mesmo assim, não se pode aceitar que os filhos do presidente, fazendo as vezes de gazeteiros de aluguel, disseminem os anseios totalitaristas do pai.
Deputado federal pelo PSL paulista e quase embaixador nos Estados Unidos, o delinquente intelectual Eduardo Bolsonaro agora defende a reedição do Ato Institucional nº 5 (AI-5) caso a esquerda nacional decida sair às ruas e protestar contra o governo, a exemplo do que acontece em países vizinhos.
Em entrevista à jornalista Leda Nagle, o filho do presidente Jair Bolsonaro tentou comparar o período que antecedeu o golpe militar de 64 aos dias atuais. “Vai chegar um momento em que a situação vai ser igual à do final dos anos 60 no Brasil, quando sequestravam aeronaves, quando executavam-se e sequestravam-se grandes autoridades, cônsules, embaixadores, execução de policiais, de militares. Se a esquerda radicalizar a esse ponto, a gente via precisar ter uma resposta. E a resposta, ela pode ser via um novo AI-5, via uma legislação aprovada através de um plebiscito, como aconteceu na Itália. Alguma resposta vai ter que ser dada”, declarou.
Classificando a esquerda como um inimigo interno e apostando que não será necessário recorrer a uma nova versão do malfadado e truculento AI-5, Eduardo Bolsonaro emendou: “É uma guerra assimétrica, não é uma guerra onde você está vendo o seu oponente do seu lado e você tem que aniquilá-lo, como acontece nas guerras militares. É um inimigo interno de difícil identificação aqui dentro do país. Espero que não chegue a esse ponto, mas a gente tem que estar atento”.
Depois de afirmar, durante palestra, que para fechar o Supremo Tribunal Federal (STF) são necessários “um soldado e um cabo”, ao mesmo tempo em que dispensou o uso de um jipe, Eduardo Bolsonaro volta à carga contra o regime democrático como se a Carta Magna simplesmente inexistisse.
Em qualquer país com doses rasas de responsabilidade e seriedade, o parlamentar já estaria sendo processado por incentivar o retorno da ditadura e desrespeitar de forma flagrante a Constituição, mas o Brasil transformou-se em uma república bananeira que aceita de forma passiva despautérios e destampatórios.
Firme no propósito de cada vez mais demonizar a esquerda, o filho do presidente da República, também conhecido como “03”, Eduardo Bolsonaro afirmou à jornalista que seria “muita ingenuidade” acreditar que os acontecimentos são obra do acaso. Na opinião estulta de alguém que acredita ser o último gênio da raça, existe um modo de operação comum.
“Seria muita ingenuidade, Leda, a gente achar que isso daí não é arquitetado e tudo surgisse ao mesmo tempo né. Eu tenho contato com o Antonio Kast, que foi senador lá no Chile e quarto colocado na última eleição presidencial, tenho alguns outros amigos lá dentro do Chile e o feedback que eles me dão é o mesmo modus operandi dos black blocs”, disse Eduardo Bolsonaro.
Na sequência, sem apresentar provas e recorrendo à teoria da conspiração, o deputado do PSL sugere que as manifestações na América Latina são bancadas com o dinheiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a partir de “contratos superfaturados” na construção do porto de Mariel e do programa “Mais Médicos”. O que configura devaneio e, ato contínuo, deveria exigir internação imediata.
“Só que para você fazer isso tudo, Leda, você precisa de dinheiro, para comprar material, para organizar o pessoal, para ter o mínimo de comunicação e de onde vem esse dinheiro? Nós desconfiamos que esse dinheiro vem muito por conta do BNDES, que no tempo de Dilma e Lula fazia essas obras superfaturadas no portal de Mariel em Cuba ou contrato de Mais Médicos que rendia mais de um bilhão de reais para a ditadura cubana. Por que não a gente achar que esse dinheiro vai se voltar para cá para fazer essas revoluções?”, afirmou o filho do estulto Jair Bolsonaro.
O mais grave nessa apasquinada epopeia é que o presidente da República usa o silêncio quase obsequioso para endossar a estupidez da sua prole, como se o cidadão tivesse de suportar esse delírio direitista.