Mesclada ao populismo barato, a delinquência intelectual do presidente Jair Bolsonaro chega a ser nauseante. Sempre pronto a alimentar o devaneio da direita radical, o que leva o País a uma cizânia jamais vista, Bolsonaro disse, nesta quarta-feira (5), que pessoas portadoras do vírus HIV são “uma despesa para todos no Brasil”, além de um “problema sério” para a própria pessoa.
Esse novo destampatório presidencial teve como muleta uma história, segundo Bolsonaro, contada pelo jornalista Alexandre Garcia, sobre a experiência da sua esposa, que é obstetra.
“O próprio Alexandre Garcia, ele fala que a esposa dele, que é obstetra, atendeu uma mulher que começou com o primeiro filho com 12 anos de idade. Outro com 15, e no terceiro, que a esposa dele atendeu, ela já estava com HIV. Uma pessoa com HIV, além do problema sério para ela, é uma despesa para todos no Brasil”, disse Bolsonaro, no momento em que deixava o Palácio da Alvorada.
A declaração foi feita meio à defesa que o presidente fazia da ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), que propôs a abstinência sexual como política pública contra a gravidez precoce. Bolsonaro criticou os que “esculhambam” Damares e citou sua própria filha, Laura, dizendo que não quer vê-la grávida aos 10 anos de idade.
“Quando ela fala em abstinência sexual, esculhambam ela. Quem quer… Eu tenho uma filha de nove anos, você acha que eu quero minha filha grávida no ano que vem? Não tem cabimento isso aí. É essa a campanha que ela faz”, disse Bolsonaro ao defender o absurdo proposto pela ministra Damares Alves, que só continua no cargo porque o presidente é refém da bancada evangélica no Congresso.
Em nova demonstração de revanchismo ideológico e disposição para manter a fermentação político-partidária, Bolsonaro afirmou que há uma “depravação total” e responsabilizou as administrações do PT por isso. “Essa liberdade que pregaram ao longo (do governo) do PT todo, que vale tudo, se glamoriza certos comportamentos que um chefe de família não concorda, chega a esse ponto, uma depravação total. Não se respeita nem sala de aula mais”, declarou o presidente.
Sobre os portadores de HIV, Jair Bolsonaro revela mais uma vez ser um chauvinista contumaz que chafurda na vala da intolerância e sequer respeita os divergentes. Ninguém contrai o vírus transmissor da Aids por vontade própria, mesmo que muitas vezes isso ocorra por descuido ou desconhecimento sobre a doença. Em vez de despejar sobre os soropositivos sua conhecida ignorância, Bolsonaro deveria se preocupar com políticas públicas destinadas ao combate à Aids e campanhas de esclarecimento sobre a doença e as formas de preservação.
Sobre depravação… Quando questionado por jornalistas sobre a destinação que dava ao apartamento funcional da Câmara dos Deputados, no período em que exercia mandato parlamentar e era proprietário de imóvel em Brasília, Bolsonaro respondeu, com visível irritação, que usava para “comer gente”. Pelo que se sabe, um imóvel funcional não existe para funcionar como casa de alterne. Resumindo, o presidente deveria pensar duas vezes antes de falar sobre depravação.
O brasileiro de bem por certo já percebeu que nada pode esperar de alguém que usa um vocabulário raso e chulo para expor suas ideias, postura que está a anos-luz de um chefe de Estado. Até porque, um presidente que sugere ao cidadão defecar somente a cada 48 horas para resolver as questões ambientais do País não tem outra coisa no cérebro.
Sobre despesa para todos… Bolsonaro deveria poupar o brasileiro de suas sandices discursivas, pois se há despesas inócuas no País, essas são as realizadas com políticos que atropelam a boa-fé do cidadão ao esparramar Brasil afora promessas absurdas e declarações estapafúrdias. Em outras palavras, é melhor uma legião de soropositivos do que um governante movido pela ignorância.