No afã de jogar uma cortina de fumaça sobre o caso da morte do miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, ex-capitão da Polícia Militar do Rio de Janeiro e investigado no escândalo das “rachadinhas” no gabinete de Flávio Bolsonaro, o presidente da República questionou a quem interessa uma perícia não independente. Jair Bolsonaro, que vem demonstrando sofrer de eventuais problemas cognitivos, parece não ter percebido que uma perícia não independente interessa ao próprio clã.
Preocupado com a morte do outrora chefe do “Escritório do Crime”, grupo de matadores de aluguel que atuava na zona oeste do Rio de Janeiro e que tinha como base a comunidade de Rio das Pedras, onde o agora senador venceu em 74 das 76 seções eleitorais na eleição de 2018, Flávio Bolsonaro publicou nas redes sociais um vídeo com o suposto cadáver de Adriano da Nóbrega, sugerindo que o responsável por abastecer as contas de Fabrício Queiroz teria sido torturado antes de ser morto, versão descartada na necropsia oficial. Ou seja, a família demonstra apreço pelas fake news.
Para desmontar a tese farsesca de Flávio Bolsonaro, o secretário de Segurança Pública da Bahia, Maurício Barbosa, rebateu a publicação do senador fluminense e colocou em dúvida a autenticidade do vídeo divulgado.
De acordo com o secretário, o vídeo divulgado pelo senador não teve a autenticidade reconhecida pelas perícias da Bahia e do Rio de Janeiro. A única perícia oficial realizada no corpo de Adriano da Nóbrega aponta que o miliciano foi morto por dois tiros de fuzil, disparados a um metro e meio de distância. No laudo constam menções a “seis fraturas nas costelas”, “dois pulmões destruídos” e o “coração dilacerado”.
Diferentemente do que alegou Flávio Bolsonaro, não há no laudo pericial qualquer menção a coronhada ou queimadura. Os ferimentos, segundo os peritos, seriam compatíveis com o impacto no corpo causado por tiros de fuzil, decorrente da elevada energia cinética dos projéteis.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública destaca que o diretor do Instituto Médico Legal (IML) da Bahia, Mário Câmara, afirma que não é possível confirmar onde o vídeo foi gravado e se o corpo é realmente de Adriano da Nóbrega.
“Não sabemos se foi adulterado, onde foi feito, não sabemos se o corpo é realmente do senhor Adriano. Então não faremos comentários sobre o vídeo”, afirma.
O senador publicou nas redes sociais um vídeo de 21 segundos de duração e sem áudio, no qual é exibido um corpo etiquetado com o nome de Adriano Magalhães. O que não significa que seja o corpo do miliciano com quem o filho do presidente mantinha relações questionáveis. Também não se deve descartar a hipótese de o vídeo ter sido adulterado, já que o clã presidencial tem conhecido apreço por informações que fogem à verdade.
“Perícia da Bahia (governo PT), diz não ser possível afirmar se Adriano foi torturado. Foram 7 costelas quebradas, coronhada na cabeça, queimadura com ferro quente no peito, dois tiros a queima-roupa (um na garganta de baixo p/cima e outro no tórax, que perfurou coração e pulmões”, escreveu Flávio Bolsonaro no Twitter.