Enquanto o ministro Paulo Guedes permanece reunido com a equipe econômica em busca de uma nova proposta para o Renda Brasil – o prazo final termina na sexta-feira (28) – o presidente Jair Bolsonaro continua desautorizando o “Posto Ipiranga”.
Depois de criticar publicamente a proposta inicial do Renda Brasil, que substituirá o Bolsa Família, Bolsonaro, que está cada vez mais empenhado no seu projeto de reeleição, autorizou elevar para R$ 6,5 bilhões os recursos destinados ao “Pró-Brasil”, programa de retomada de investimentos.
Decorrente de pressão exercida pelo Congresso Nacional e por alguns ministérios, a decisão do presidente é uma derrota de Paulo Guedes, que havia negociado um limite de recursos na casa de R$ 4 bilhões, condicionado à aprovação de marcos regulatórios de diversos setores como forma de atrair o capital privado. Apesar desse revés, o ministro da Economia conseguiu evitar que no novo formato do Pró-Brasil fosse incluída uma manobra que furasse o teto de gastos.
Dos R$ 6,5 bilhões destinados ao programa, R$ 3,3 bilhões serão indicados diretamente por parlamentares e poderão ser alocados nos respectivos redutos eleitorais. Ou seja, Bolsonaro não apenas aderiu À chamada “velha política” tão criticada por ele no começo do governo, mas voltou a acionar a manivela do escambo político, algo que na ponta permite a prática de corrupção. Quem conhece os bastidores da política nacional sabe que isso é verdadeiro.
Os R$ 3,2 bilhões restantes serão divididos igualmente entre os ministérios do Desenvolvimento Regional, sob a batuta de Rogério Marinho, e da Infraestrutura, comandado por Tarcísio de Freitas. Ex-integrante da equipe econômica, Marinho trava nos bastidores do governo uma queda de braços com Guedes. Enquanto o primeiro defende o aumento de gastos para supostamente viabilizar a reeleição do presidente da República, o segundo insiste na busca do equilíbrio fiscal.
A ala política do governo vinha defendo a liberação de recursos para o Pró-Brasil por meio de crédito extraordinário, que fica de fora da exigência de cumprimento da meta fiscal, mas o montante será remanejado de outras áreas, como previu Paulo Guedes.
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O ministro da Economia já criticou publicamente, em diversas ocasiões, a insistência de outros integrantes para que a retomada do crescimento econômico se desse a partir de investimentos públicos. De acordo com Paulo Guedes, essa solução seria como “cavar mais fundo” após o “buraco” provocado pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado nos governos petistas.
Guedes continua olhando pelo retrovisor e criticando governos anteriores por causa da crise econômica, mas até o momento nada fez de concreto para tirar o Brasil do atoleiro, a não ser modular seus discursos de acordo com o desejo do mercado financeiro.
De nada adianta incentivar a retomada da economia em um país que é corroído pelo desemprego, pela má distribuição de renda e pela desigualdade social. Sem um salário mínimo com poder de compra é impossível pensar em solução no curto prazo. Para que o leitor tenha ideia da tragédia que se instalou no País, o salário mínimo ideal, segundo o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) deveria ser em junho R$ 4.420,11, contra os R$ 1.045 pagos atualmente.
A decisão de majorar os recursos do Pró-Brasil surgiu da tentativa fracassada do governo de negociar com os parlamentares uma fatia menor no “bolo”, mas para evitar novo desgaste com o Parlamento o presidente sucumbiu à chantagem legislativa. Em suma, Jair Bolsonaro, que nunca enganou os integrantes do UCHO.INFO, é o que se conhece como “mais do mesmo”.
Com um presidente da República que atenta contra a democracia a todo momento e está cada vez mais cercado pelos escândalos de corrupção envolvendo seus filhos, resgatar a confiança do investidor para, na sequência, retomar a economia é misto de devaneio pontual com sonho de longo prazo.
O brasileiro enfrenta uma série crise econômico-social, como demonstrou o impressionante número de cidadãos que solicitaram o auxílio emergencial, e não pode continuar esperando por um milagre que nunca chega. Como disse o sociólogo e ativista dos direitos humanos Herbert de Souza, o Betinho, “quem tem fome, tem pressa”.
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