Com discurso mitômano e patético, Bolsonaro se faz de vítima na abertura da Assembleia-Geral da ONU

 
O presidente Jair Bolsonaro mais uma vez recorreu à vitimização para, em discurso na abertura da 75ª Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), que este ano aconteceu de forma virtual em razão da pandemia do novo coronavírus, tentar convencer o planeta de que é vítima de “campanha escorada em interesses escusos” por parte de “instituições internacionais” junto a “associações brasileiras, aproveitadoras e impatrióticas”.

Já esperada, até porque o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI), Augusto Heleno, adiantara o tom do discurso um dia antes, a postura de Bolsonaro faz com que o Brasil ganhe força como pária internacional, no momento em que a subserviência aos Estados Unidos potencializa o vexame e o descrédito ao que o País está exposto, o que prejudica não apenas as relações com outras nações, mas também o comércio exterior.

“Somos vítimas de uma das mais brutais campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal. A Amazônia brasileira é sabidamente riquíssima. Isso explica o apoio de instituições internacionais a essa campanha escorada em interesses escusos que se unem a associações brasileiras, aproveitadoras e impatrióticas, com o objetivo de prejudicar o governo e o próprio Brasil”, disse o presidente.

Insistindo na tese de que a Amazônia brasileira é alvo de cobiça por parte de outros países por causa das riquezas do próprio bioma e das reservas minerais, Bolsonaro buscou minimizar a flagrante incompetência de um governo que, ainda na campanha presidencial, selou acordos espúrios com a banda podre do agronegócio, sempre ávida pelos serviços dos criminosos do campo.

 
De tal modo, o presidente creditou a culpa pelas queimadas aos indígenas e aos caboclos, como se dados dos satélites e das investigações nada representassem. “Nossa floresta é úmida e não permite a propagação do fogo em seu interior. Os incêndios acontecem praticamente, nos mesmos lugares, no entorno leste da floresta, onde o caboclo e o índio queimam seus roçados em busca de sua sobrevivência, em áreas já desmatadas”, disse Bolsonaro, cada vez mais mitômano e patético.

Se os aduladores de Jair Bolsonaro aceitam ser enganados recorrentemente, que não queiram impor ao restante da população uma sonora mentira como verdade suprema. Um governante que desrespeita de forma irresponsável a Constituição ao não proteger o meio ambiente não merece crédito e deveria responder criminalmente por omissão.

Rascunhado com antecedência pela ala radical do governo, o palavrório e Bolsonaro é um atentado ao bom-senso e contraria não só a realidade dos fatos, mas varre para debaixo da alcatifa palaciana os desmandos e os escândalos que continuam avançando na toada de sempre.

Ademais, ultrapassa os limites do aceitável falar em “campanha escorada interesses escusos” para rebater críticas à tragédia ambiental que avança no País, enquanto a corrupção corre solta no setor de mineração, a exemplo do que vem denunciando o UCHO.INFO nos últimos anos.

Integrantes do governo foram devidamente informados acerca da atuação bandoleira de alguns políticos que vendem apoio ao Palácio do Planalto em troca de liberdade para atuar nos subterrâneos do poder, mas quem ousou cobrar mudanças acabou demitido. Ao menos dois ex-integrantes do governo Bolsonaro – Santos Cruz e Sérgio Moro – foram informados sobre a corrupção que campeia nos escaninhos da mineração.

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