Consultoria da Odebrecht deveria ter conversado com o doleiro Alberto Youssef antes de contratar Moro

 
O mais novo capítulo da escandalosa epopeia protagonizada por Sérgio Moro, ex-juiz federal e que para muitos desavisados é uma versão de camelô de “salvador da pátria”, continua reverberando, principalmente no campo político, onde não faltam críticas de todos os naipes ao outrora algoz dos flagrados na Operação Lava-Jato.

O anúncio de que Moro tornou-se sócio da consultoria norte-americana Alvarez & Marsal, responsável pela recuperação judicial do Grupo Odebrecht, que foi ao precipício empresarial impulsionado pela Lava-Jato, traz detalhe no mínimo pitoresco.

Em sua página na internet, a Alvarez & Marsal publicou nota sobre a chegada do novo sócio da empresa e informou que “Moro é especialista em liderar investigações anticorrupção complexas e de alto perfil, crimes de colarinho branco, lavagem de dinheiro e crime organizado, bem como aconselhar clientes sobre estratégia e conformidade regulatória proativa”.

De chofre é importante lembrar que o papel de Sérgio Moro na Lava-Jato, assim como em outras ações penais, não era o de investigador, cuja responsabilidade é do Ministério Público, mas de julgador. Essa informação conflituosa da A&M revela que há um flagrante conflito de interesses na contratação de Moro, assunto que não pode cair no esquecimento das autoridades, em especial no Supremo Tribunal Federal (STF), cujo presidente, ministro Luiz Fux, se desmancha em elogios à operação que desmantelou o esquema de corrupção.

 
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Sobre o fato de Moro ser “especialista em liderar investigações anticorrupção complexas e de alto perfil”, como afirma a A&M no comunicado, a direção da consultoria, antes de consumar a contratação, deveria ter conversado com Alberto Youssef sobre a “expertise” do ex-juiz em assuntos relacionados ao combate à corrupção. Apenas a título de informação, Youssef firmou com o mesmo Sérgio Moro acordo de delação premiada no âmbito do escândalo do Banestado, assumindo o compromisso de não mais atuar no mercado de câmbio.

Anos mais tarde, Alberto Youssef migrou da condição de operador financeiro do ex-deputado José Janene, mentor intelectual do esquema criminoso conhecido como Petrolão, para o posto de “caixa forte” dos envolvidos no maior escândalo de corrupção revelado até então. Como complemento, vale lembrar que a primeira investigação sobre o esquema de corrupção na Petrobras coube ao UCHO.INFO, que fez a primeira denúncia em agosto de 2005. A Lava-Jato foi deflagrada em março de 2014, após muita insistência deste noticioso junto às autoridades.

Ademais, se Moro fosse de fato especialista em “liderar investigações anticorrupção complexas e de alto perfil, crimes de colarinho branco, lavagem de dinheiro e crime organizado”, o banditismo político que grassa no atual governo brasileiro já teria sido extirpado.

Além disso, Moro recebeu em seu gabinete no Ministério da Justiça, quando ainda integrava o desgoverno de Jair Bolsonaro, um dossiê sobre corrupção no setor de mineração. Entre os documentos entregues ao então titular da Justiça havia inúmeras matérias do UCHO.INFO sobre o tema, fruto de investigações comandadas pelo editor deste portal de notícias.

Para concluir, a Lava-Jato transformou-se em um rentável negócio para investigadores e julgadores, que cansados da labuta decidiram alçar voos mais altos e igualmente questionáveis. Com a palavra, a Ordem dos Advogados do Brasil, o Supremo Tribunal Federal e a Procuradoria-geral da República.

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