Se a pandemia do novo coronavírus foi alvo do negacionismo genocida do presidente Jair Bolsonaro, a vacinação contra a Covid-19 continua no torvelinho da politização, algo torpe e que atenta contra a dignidade do cidadão.
Nesta segunda-feira (7), o governador de São Paulo, João Dória Júnior (PSDB), disse que a vacinação contra a Covid-19 começará no mais importante estado da federação em 25 de janeiro. Dória apresentou um cronograma de vacinação, que prioriza profissionais de saúde, idosos e pessoas consideradas do grupo de risco. A vacina que será utilizada pelo governo paulista é a Coronavac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac e produzida no Brasil em parceria com o Instituto Butantan.
Pré-candidato à Presidência da República em 2022, Dória avisou que disponibilizará 4 milhões de doses da Coronavac a outros estados que tenham interesse em receber o imunizante. Além disso, o governo de São Paulo vacinará todos os brasileiros interessados na imunização, não importando o estado de origem, desde que respeitado o cronograma de vacinação.
Em seguida, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, disse que o governo federal vacinará 150 milhões de brasileiros até o final de 2021. Se o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, é especialista em logística, o vice-presidente, que é general reformado, parece não entender do assunto. Imunizar esse contingente de pessoas depende de uma logística complexa, principalmente se a vacina precisar ser armazenada a temperaturas extremamente baixas (-70º C), como é o caso da vacina da Pfizer-BioNtech.
Apenas a título de informação, todas as vacinas em desenvolvimento ao redor do planeta devem ser aplicadas em duas doses, com intervalo de algumas semanas entre uma dose e outra, mas depende de seringas e agulhas na mesma quantidade. A compra desses insumos depende de processo licitatório, além de tempo para a produção. Não obstante, a entrega desses insumos deve ser feita à Central de Medicamentos, em Brasília, que coordena a distribuição a todos estados e municípios. Em outras palavras, é uma operação que demanda tempo. A vantagem do imunizante da Sinovac é que a vacina compreende o fármaco, a seringa e a agulha.
Ciente de que se a Coronavac for aprovada pela Anvisa e estiver disponível antes de qualquer outra vacina seu potencial adversário na eleição de 2022 ganhará terreno, o presidente Jair Bolsonaro anunciou no começo da noite desta segunda-feira que o governo disponibilizará vacina a todos os brasileiros, de forma gratuita e não obrigatória, desde que homologada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“Em havendo certificação da Anvisa (orientações científicas e os preceitos legais), o governo brasileiro ofertará a vacina a toda a população de forma gratuita e não obrigatória”, escreveu Bolsonaro em rede social.
“Segundo o Ministério da Economia, não faltarão recursos para que todos sejam atendidos. Saúde e Economia de mãos dadas pela vida”, completou o presidente.
Como se não bastasse a manifestação de Bolsonaro, que continua insistindo na politização da Covid-19, o Ministério da Saúde – pressionado pela opinião pública, pela classe política e principalmente pelo staff do Palácio do Planalto – anunciou na noite desta segunda-feira que está em fase avançada a negociação para a compra de 70 milhões de doses do imunizante da Pfizer-BioNtech.
É importante ressaltar que dos cincos cargos de direção da Anvisa, três são ocupados por militares indicados por Bolsonaro, que dessa maneira detém o controle das decisões da agência reguladora. O mais recente indicado a cargo de direção na Anvisa é Jorge Luiz Kormann, tenente-coronel reformado do Exército. Sem ter conhecimento de medicina ou de desenvolvimento de vacinas, Kormann comandará a unidade responsável pela aprovação de imunizantes.
A politização da pandemia do novo coronavírus continua a plena carga, pois em jogo está a disputa pela cadeira presidencial daqui a dois anos. Tanto é assim, que a Anvisa informou há pouco que o processo para a liberação da Coronavac pode atrasar o cronograma de vacinação divulgado pelo governador João Dória.
Como antecipou o UCHO.INFO, a Anvisa, a mando de Bolsonaro, dificultará ao máximo a homologação da Coronavac. Autoridades do setor de saúde do governo paulista afirmam, de forma reservada, que temem uma atuação política da agência. Entre os motivos dessa desconfiança está a proximidade entre Bolsonaro e o diretor-geral da Anvisa, Antonio Barra Torres, contra-almirante que participou ao lado do presidente da República de um dos atos antidemocráticos que ocorreram na Praça dos Três Poderes.
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