Bolsonaro modula discurso após fala de Lula, defende a vacinação e destila falso bom-mocismo

 
Que a desfaçatez tem lugar garantido no universo político todos sabem, mas a do presidente Jair Bolsonaro chega a ser nauseante. Convencido de que o avanço da pandemia do novo coronavírus pode promover estrago devastador no governo, Bolsonaro mudou o tom do discurso e, em questão de horas, passou a defender vacinas contra Covid-19, ignorando os absurdos que disparou contra aos imunizantes.

Sinalizando que a elegibilidade do ex-presidente Lula tem potencial para embaralhar o cenário eleitoral de 2022, Bolsonaro decidiu iniciar solenidade no Palácio do Planalto após a fala do petista e a do governador de São Paulo, João Dória Júnior (PSDB). Durante o evento palaciano, o presidente da República exibiu falso bom-mocismo ao usar máscara de proteção e evitar ataques a governadores e prefeitos. “O governo federal não poupou esforços, não economizou recursos para atender a todos os estados e municípios”, dando a entender que sua gestão fez o impossível para enfrentar a crise sanitária, que se transformou em palco de disputas políticas absurdas e descabidas.

Bolsonaro também exaltou medidas adotadas pelo governo para enfrentar a pandemia de Covid-19, destacando que o Brasil já vacinou 10 milhões de pessoas, contingente que supera a população de Israel, que tem aproximadamente 9 milhões de habitantes. Que ninguém se deixe levar por esse engodo discursivo, pois o Brasil vacinou menos de 5% da população, sendo que para blindar o País contra o novo coronavírus é preciso imunizar entre 75% e 80% dos brasileiros.

A fala farsesca de Bolsonaro abriu espaço para uma declaração que até recentemente era considerada heresia pelo chefe do Executivo federal: a defesa da vacina. O presidente destacou em seu discurso que o governo fechou acordo para a compra da vacina AstraZeneca-Oxford em agosto de 2020, mas a mambembe diplomacia brasileira dificultou a remessa de Ingrediente Farmacêutico Ativo ((IFA), fabricado na China, para a produção do imunizante no Brasil.

 
Bolsonaro pontuou os acordos para a compra de vacinas de outras farmacêuticas, como a Pfizer e a Janssen, por exemplo, mas enquanto falou sobre vacinação não mencionou a Coronavac, produzida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, ligado ao governo paulista. A Coronavac foi utilizada para vacinar a mãe do presidente da República, mesmo ele tendo afirmado que o cartão de vacinação foi adulterado.

O discurso de Bolsonaro foi modulado com base na fala de Lula, que defendeu a vacinação contra Covid-19 e sem cerimonia criticou a irresponsabilidade do governo federal no combate à pandemia. O presidente, mesmo que exibindo constrangimento, disse que as medidas de isolamento servem para “tão somente dar tempo para que os hospitais fossem aparelhados com leitos de UTI e respiradores”. É bom lembrar que o Ministério da Saúde descumpriu decisão do STF de reativar leitos de UIT em vários estados do País.

Em relação ao auxílio emergencial, que continua na dependência da boa vontade dos parlamentares, como se a miséria não fosse companheira da pressa, Bolsonaro disse que o governo não desamparou o povo brasileiro.

“O Brasil está fazendo a sua parte, o governo federal tem mostrado o seu trabalho. Não desamparamos o povo brasileiro. Não se tem notícia no mundo de um projeto social de tamanha envergadura, atentando os mais humildes e os mais necessitados”, afirmou.

Apesar do tom moderado de seu discurso, Bolsonaro voltou a defender o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19. O presidente, que até recentemente falava em “tratamento precoce”, agora exalta o que chamou de “atendimento imediato”. “Muitos têm sido salvos no Brasil com esse atendimento imediato”, afirmou.

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