A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgou nesta segunda-feira (22) um estudo sobre o impacto da epidemia de Covid-19 no Brasil entre os profissionais de saúde.
Há mais de um ano atuando na linha de frente contra o vírus, esses trabalhadores sofrem de exaustão, tiveram alterações significativas em seu bem-estar pessoal e profissional, e relatam falta de apoio institucional e discordância com o posicionamento de autoridades sanitárias.
Participaram do questionário “Condições de Trabalho dos Profissionais de Saúde no Contexto da Covid-19 no Brasil” pouco mais de 25 mil profissionais da área da saúde. O levantamento buscava avaliar as condições de trabalho e as mudanças e barreiras enfrentadas pelos profissionais de saúde durante os últimos 12 meses, envolvendo aspectos físicos, emocionais e psíquicos.
Dos participantes, 95% responderam que a pandemia alterou o cotidiano “significativamente”, quase 50% relataram excesso de trabalho, com jornadas longas para além das 40 horas semanais, e cerca de 45% afirmaram que necessitam de mais de um emprego para sobreviver.
“Dor, sofrimento e tristeza”
“Após um ano de caos sanitário, a pesquisa retrata a realidade daqueles profissionais que atuam na linha de frente, marcados pela dor, sofrimento e tristeza, com fortes sinais de esgotamento físico e mental. Trabalham em ambientes de forma extenuante, sobrecarregados para compensar o elevado absenteísmo. O medo da contaminação e da morte iminente acompanha seu dia a dia”, relatou a coordenadora do estudo, Maria Helena Machado.
O estudo da Fiocruz indica que 43,2% dos profissionais de saúde não se sentem protegidos no trabalho. O principal motivo, para 23% deles, está relacionado à falta, à escassez e à inadequação do uso de EPIs (equipamentos de proteção individual) – 64% deles revelaram que precisam improvisar equipamentos.
Também houve queixas sobre ausência de estrutura adequada, despreparo técnico para atuar na pandemia e insensibilidade de gestores em relação às suas necessidades profissionais.
A Fiocruz alertou também para o impacto da pandemia da Covid-19 na saúde mental dos profissionais de saúde. Segundo a pesquisa, as alterações mais comuns citadas pelos profissionais foram perturbação do sono (15,8%), irritabilidade e distúrbios em geral (13,6%), estresse (11,7%), dificuldade de concentração ou pensamento lento (9,2%), pensamento negativo ou suicida (8,3%) e alteração no apetite e do peso (8,1%).
Quase um quarto (22,2%) dos participantes classificou o trabalho como extenuante. O estudo apontou ainda que 14% da força de trabalho que atua na linha frente de combate à Covid-19 no Brasil está no limite da exaustão.
Posicionamento de políticos e “fake news” são barreiras
Quase dois terços dos participantes declararam falta de apoio institucional. A desvalorização pela própria chefia (21%), a grande ocorrência de episódios de violência e discriminação (30,4%) e a falta de reconhecimento por parte da população usuária (apenas 25% se sentem mais valorizados) também afligem os profissionais de saúde.
“Além disso, são vítimas de discriminação na própria vizinhança (33,7%) e no trajeto entre trabalho e casa (27,6%). Em outras palavras, as pessoas consideram que o trabalhador transporta o vírus e, portanto, é um risco. Se não bastasse esse cenário desolador, esses profissionais de saúde experienciam a privação do convívio social entre colegas de trabalho, a privação da liberdade de ir e vir, o convívio social e a privação do convívio familiar”, explicou Machado.
O estudo destacou ainda as percepções dos profissionais da saúde em relação às notícias falsas propagadas ao longo da pandemia. Mais de 90% dos profissionais admitiram que “fake news” representam um verdadeiro obstáculo no combate ao novo coronavírus.
Cerca de três em cada quatro participantes relataram que atenderam pacientes com algum tipo de crença enganosa em relação à doença, como a adoção de medicamentos ineficazes, por exemplo. Ainda, 70% dos profissionais de saúde consultados afirmaram discordar dos posicionamentos das autoridades sanitárias durante a pandemia, considerando-os inconsistentes e nada esclarecedores.
“A pandemia revelou a essencialidade da saúde em nossas vidas e, paradoxalmente, revelou o quanto os profissionais de saúde não são considerados e respeitados nesse processo”, afirmou Machado. “Por meio da pesquisa, constata-se o estado de exaustão e sofrimento desses profissionais, que já entraram na pandemia adoecidos e cansados, e a situação sob a qual estão expostos só piorou tal
quadro.” (Com agências de notícias)
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