(*) Carlos Brickmann
Com a CPI da Pandemia, aprovada pelo Senado e com ordem do STF para iniciá-la, quem ganha e quem perde?
– A CPI foi implantada como Bolsonaro quer, investigando também os prefeitos e governadores. Assim se diluem as investigações – como disse o presidente, se a CPI fosse apenas sobre o Governo Federal, tudo cairia em cima dele. Só que o Brasil tem 5.568 municípios. É alvo demais para investigar. Se a CPI não anda, Bolsonaro e equipe não precisam responder sobre a inacreditável demora em comprar vacinas. Só que isso vale até o Centrão achar que deve: depois, fica mais caro.
– A CPI é implantada para valer. Bolsonaro terá de explicar por que não quis comprar vacinas da Pfizer, da Janssen, da Moderna, e só comprou a CoronaVac (a “vachina”, a “vacina do Dória”, “aquela vacina comunista que não transmite segurança”) porque São Paulo iria iniciar a vacinação e não haveria imunizantes para os demais Estados.
– O presidente corre risco de impeachment e o Centrão é decisivo. Só que o acordo de Bolsonaro com o Centrão é para a campanha da reeleição. Impeachment não está no acerto. O Centrão pode apoiá-lo, tem condições de mantê-lo no poder, é forte o suficiente. Mas isso não é barato. Quantos Ministérios e outros cargos custará o apoio?
O Centrão ganha. Governo e oposição perdem. Nós pagamos a conta.
Quem pode, pode 1
Bolsonaro brigou com o Supremo (lembre daquele seu ministro da Indukassão pouco educado que, em reunião ministerial, num linguajar de estrebaria, disse que queria prender o STF inteiro?); chamou o senador Randolfe Rodrigues de “bosta”; acusou o governador Doria de “patife”; disse que em todo o país governadores e prefeitos roubavam o dinheiro federal.
Quem pode, pode 2
Bolsonaro teve problemas com as Forças Armadas. Precisou nomear um general que (horror!) combateu direito a Covid para comandante do Exército. Tem apoio? Tem: o general Augusto Heleno e sua equipe o apoiam. Já o vice, o general Mourão, talvez se sinta chateado com as desfeitas que Bolsonaro lhe fez. Mas o presidente vai depender mesmo do Centrão e de Paulo Guedes, este para conseguir verbas que mantenham o Centrão bem alimentado. Uma recordação: Dilma caiu ao romper com o deputado Eduardo Cunha, à época expoente do Centrão. Quem usa jacarés para tomar conta da casa precisa ter a certeza de que estão felizes e não passam fome.
E faz quando não pode
Uma coisa devemos reconhecer: já que a oposição até agora não apareceu na briga, Bolsonaro ocupou com brilho o espaço desses a quem considera comunistas: João Doria, Eduardo Leite, Eduardo Paes, Fernando Henrique e, por que não? aquele comunista que já usou a fantasia de socialista fabiano, o professor (esses professores são sempre suspeitos) Delfim Netto. Há dias, falou longamente com o senador goiano Jorge Kajuru, dando-lhe instruções para melar a CPI e pressionar o STF.
Kajuru é um front runner, nunca segue os passos da manada. E é coerente: sempre grava suas conversas telefônicas e as distribui publicamente. Fez o que sempre faz: divulgou a conversa em que Bolsonaro lhe deu suas instruções (suficientes para dar base a um pedido de impeachment). E foi gentil: poupou Bolsonaro de uma parte do besteirol, deixando de divulgá-lo. Bolsonaro reclamou, e logo suas exigências foram atendidas: Kajuru divulgou a parte oculta, em que Bolsonaro ameaçava fisicamente o senador Randolfe Rodrigues, a quem chamou de “bosta”.
A hora do zero à esquerda
O senador Flávio Bolsonaro, o filho 01 do presidente 000, resolveu ajudar o pai: anunciou que vai representar contra Kajuru na Comissão de Ética do Senado. Seria engraçado: Kajuru apenas divulgou a gravação da conversa, não foi ele que falou besteira. Mas não vai representar, não. A Comissão de Ética do Senado está fechada há 600 dias. Tudo não passa de jogo de cena.
Os 600 dias
O projeto que acaba com os supersalários no serviço público está há 600 dias aguardando que a Câmara dos Deputados vote sua urgência. O tema parou no dia 20 de agosto de 2012, esquecendo-se qualquer urgência.
O deputado federal Igor Timo requer que o texto seja pautado. Como diz, o projeto não é novidade: apenas regulamenta o teto salarial de servidores públicos estabelecido pela Constituição.
De acordo com documento enviado pelo Palácio do Planalto à Câmara em fevereiro, o projeto que elimina os supersalários é prioridade do Governo para 2021. Estima-se que a economia será de R$ 2,3 bilhões por ano. Pelo projeto, auxílios, parcelas indenizatórias e outros penduricalhos passam a ser consideradas verbas sujeitas aos limites de rendimentos (R$ 39,2 mil por mês). Hoje, mais da metade dos magistrados ganha mais que o teto.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.
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