Como destacamos em matérias anteriores, os depoimentos de testemunhas à CPI da Covid, na presente semana, comprometeriam sobremaneira a situação do presidente Jair Bolsonaro, que ao final das investigações poderá ser responsabilizado pela tragédia humana provocada pela pandemia do novo coronavírus.
Diretor-geral da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres foi claro e seguro ao prestar depoimento, na terça-feira (11), aos senadores que integram a CPI. A fala do diretor do órgão regulador foi tão precisa, que a tropa de choque do governo Bolsonaro ficou sem argumentos para reagir e blindar o presidente da República.
Nesta quarta-feira (12), o ex-secretário de Comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten inicialmente tentou proteger Bolsonaro, esquivando-se das perguntas formuladas pelos senadores e recorrendo a declarações contrárias às afirmações feitas durante entrevista concedida à revista Veja. Diante da iminência de ser preso a pedido do relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), o ex-secretário da Presidência mudou o rumo do depoimento.
Wajngarten afirmou que uma carta da Pfizer endereçada a autoridades do governo, com oferta de vacinas, ficou sem resposta por dois meses. Ele afirmou que a carta foi enviada no dia 12 de setembro de 2020, permanecendo sem qualquer resposta até 9 de novembro.
A referida carta foi enviada ao presidente Jair Bolsonaro, ao seu gabinete (de Wajngarten), ao ministro Paulo Guedes (Economia) e ao então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.
É importante ressaltar que o ex-secretário afirmou à revista Veja que a demora do governo na aquisição de vacinas contra Covid-19 foi fruto da incompetência do Ministério da Saúde.
Considerando a urgência que permeia uma pandemia, que Jair Bolsonaro e Eduardo Pazuello receberam a tal carta e que o então ministro da Saúde era um mero cumpridor das ordenes do presidente da República, não há como deixar de responsabilizá-los pelo morticínio decorrente do avanço descontrolado da crise sanitária.
Wajngarten respondeu à Pfizer em 9 de novembro e no mesmo dia recebeu telefonema do então presidente da farmacêutica, Carlos Murillo. O ex-secretário afirmou ter entrado nas sobre a aquisição de vacinas a pedido do dono de um veículo de comunicação. Posteriormente, Wajngarten afirmou que jamais participou dessas discussões.
Segundo o ex-secretário, a proposta inicial da Pfizer citava “irrisórias” 500 mil doses de vacinas. Contudo, uma carta do laboratório, mencionada no depoimento, pelo próprio Wajngarten, destaca que os imunizantes poderiam “proteger milhões de brasileiros”, mas não obteve respostas.
A mencionada carta, de 12 de setembro de 2020, foi assinada pelo CEO global da Pfizer, Albert Bourla, que afirma ter se reunido representantes das pastas da Saúde e da Economia, além de membros da embaixada do Brasil em Washington.
“Apresentamos uma proposta ao ministério da Saúde do Brasil para fornecer nossa potencial vacina que poderia proteger milhões de brasileiros, mas até o momento não recebemos respostas”, escreveu Bourla.
“Sabendo que tempo é essencial, minha equipe está interessada em acelerar as discussões sobre uma possível aquisição e pronta para se reunir com Vossa Excelência ou representantes do governo brasileiro o mais rapidamente possível”, completou.
Beira o devaneio imaginar que uma empresa do porte e da experiência da Pfizer seria capaz de oferecer apenas 500 mil doses de vacina, ao mesmo tempo em que enfatiza a proteção de milhões de brasileiros.
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