Emmanuel Macron e outros líderes globais foram alvo do sistema de espionagem Pegasus

 
O celular do presidente da França, Emmanuel Macron, e de mais uma dezena de altos políticos aparecem como possíveis alvos do sistema de espionagem Pegasus, segundo informações publicadas nesta terça-feira (20) pelos jornais “Le Monde”, “The Guardian” e “The Washington Post”.

Além de Macron, aparecem na lista de prováveis alvos os presidentes Cyril Ramaphosa (África do Sul) e Barham Salih (Iraque) e os primeiros-ministros Imram Khan (Paquistão), Saad-Eddine El Othmani (Marrocos), Mostafa Madbouly (Egito) e o rei Mohammed VI (Marrocos). A lista ainda inclui ex-líderes do Líbano, Itália, Bélgica e Uganda.

No último domingo (18), um consórcio de jornais e organizações liderado pelo projeto francês Forbidden Stories revelou que os governos de vários países podem ter espionado 50 mil números de telefone de ativistas, jornalistas e políticos usando o software Pegasus, desenvolvido pela empresa israelense NSO Group.

Outros países que fizeram uso em larga escala da ferramenta incluem Arábia Saudita, Azerbaijão, Hungria e Índia.

O caso marroquino

No caso de Macron, ele teria sido espionado com auxílio da ferramenta Pegasus pelo governo do Marrocos, que teria espionado ainda o ex-primeiro-ministro Édouard Philippe e quatorze ministros franceses. O governo francês ainda não se pronunciou. Já a NSO negou a acusação e disse que Macron jamais foi um alvo de algum de seus clientes.

Já o jornal britânico “The Guardian” aponta que o Marrocos também espionou os telefones de Tedros Adhanom Ghebreyesus, secretário-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019, e do ex-premiê belga Charles Michel, que atual presidente do Conselho Europeu.

Escândalo mexicano

O consórcio também revelou que serviços de inteligência do México fizeram uso da ferramenta em larga escala durante o governo de Enrique Peña Nieto (2012-2018). O país lidera a lista de números espionados com quase 15 mil. Entre os alvos estão jornalistas, ativistas e até o atual presidente do país, Andrés Manuel López Obrador. O governo Peña Nieto teria espionado até mesmo parentes de um grupo de estudantes mexicanos assassinados em 2014.

“Foram vítimas pais e mães dos 43 estudantes de Ayotzinapa desaparecidos e também o atual presidente da República e várias pessoas de seu entorno, sua esposa, filhos e até mesmo seu cardiologista”, disse Edith Olivares, diretora interina da Anistia Internacional México, organização que também deu apoio técnico à investigação.

Além de López Obrador, a ferramenta foi usada pela inteligência mexicana para espionar a atual prefeita da Cidade do México, Claudia Sheinbaum, e pelo menos 45 governadores e ex-governadores, assim como o ex-presidente Felipe Calderón (2006-2012).

 
Jornalistas na mira

O jornal “The Washington Post” aponta que dos 50 mil telefones celulares possivelmente espionados mundo ao redor do planeta com a ferramenta, os autores da investigação já conseguiram identificar mil pessoas em 50 países. O grupo inclui pelo menos 65 funcionários do alto escalão de empresas, 85 ativistas de direitos humanos, 189 jornalistas e mais de 600 políticos e autoridades governamentais. Entre os jornalistas espionados estão profissionais dos jornais “Financial Times”, “The New York Times” e “El País”.

Nesta terça-feira, o Ministério Público francês anunciou a abertura de investigação a partir de denúncia apresentada pelo portal Mediapart, que apontou que dois de seus jornalistas foram espionados pelo governo do Marrocos. Segundo a denúncia, o serviço secreto do Marrocos invadiu os telefones de Lénaïg Bredoux, editora de questões de gênero e violência sexual do Mediapart, e de Edwy Plenel, cofundador do portal.

A ferramenta ainda foi usada para espionar membros do círculo pessoal do jornalista Jamal Khashoggi, brutalmente assassinado em 2018 dentro do consulado saudita em Istambul.

Efeitos na Hungria e Índia

As revelações já vêm causando efeitos políticos nos países que fizeram uso da ferramenta para espionar políticos locais, jornalistas e ativistas. Nesta terça-feira, a oposição no Parlamento indiano interrompeu uma sessão para defender a instauração de inquérito contra o primeiro-ministro Narendra Modi. Segundo o consórcio que investigou o caso, os aparelhos celulares de pelo menos 300 indianos foram monitorados. Entre eles o de Rahul Gandhi, principal adversário político do premiê Modi.

Já na Hungria, a oposição acusou nesta terça-feira o primeiro-ministro Viktor Orbán de criar um “Estado policial” ao utilizar o programa Pegasus para espiar jornalistas e políticos da oposição. Pelo menos 300 pessoas teriam sido monitoradas na Hungria.

A eurodeputada de esquersa Klara Dobrev, que faz oposição a Orbán, disse que, com o uso do Pegasus, o governo ultranacionalista do premiê deu um “exemplo de tirania”.

O líder do partido Momentum (liberal), Abdras Kegete-Gyor, e o prefeito de Budapeste, Gergely Karacsony, outros críticos de Orbán, também acusaram o premiê de se comportar como um ditador. O governo húngaro negou as acusações.

Reações internacionais

A alta comissária da Organização das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, descreveu como “extremamente alarmante” a espionagem de jornalistas, ativistas e políticos. Para Bachelet, as queixas sobre o uso generalizado de spyware “parecem confirmar os piores receios sobre o abuso de tecnologias de vigilância para violar os direitos humanos”.

A alta comissária acrescentou que esse tipo de medida de controle “só se justifica em circunstâncias muito definidas”, o que não teria sido levado em conta no caso do uso do Pegasus.

A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), por sua vez, pediu que governos de países democráticos atuem contra aqueles que se serviram do programa para espionar jornalistas, lembrando que já tinha descrito o NSO Group como uma “predadora digital” da liberdade de imprensa em 2020.

“Os países democráticos devem assumir o controle deste caso particularmente grave, determinar os fatos e sancionar os responsáveis. Convidamos os jornalistas e os meios [de comunicação social] afetados a virem à RSF para se juntarem à resposta judicial necessária após as revelações”, afirmou Christophe Deloire, secretário-geral da RSF, em comunicado. (Com Deutsche Welle e agências internacionais)

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