(*) Carlos Brickmann
* O empresário que transformou a Folha de S. Paulo no maior jornal do país, Octavio Frias de Oliveira, costumava dizer que a grande vantagem de ser idoso é ter visto tudo o que aconteceu, e o contrário também. Caro leitor, vivemos o bastante para ver o seguinte anúncio: “2º Encontro de Compliance do grupo J&F – o valor da integridade. Como os programas de Transparência e Integridade posicionam marcas e podem reduzir riscos?”
Traduzindo: Compliance é uma palavra em inglês que tem sido usada para definir a integridade corporativa. A empresa fixa e divulga normas públicas de conduta, sua postura ética e se obriga a cumprir tudinho. No Brasil, a Lei 12.846, Lei Anticorrupção, define oferecer vantagem a agentes públicos, custear atos ilegais, ocultar interesses ou a identidade dos beneficiários das ilegalidades como atos contra a administração pública.
Completando: o grupo J&F, que promove o 2º Encontro de Compliance – o valor da integridade, pertence aos irmãos Joesley e Wesley Batista.
* O presidente Bolsonaro garantiu que o ex-juiz (e seu ex-ministro) Sérgio Moro não aguenta dez segundos de debates. Bolsonaro ganhou a eleição de 2018 sem participar de um segundo que fosse de qualquer debate.
* Moro, a propósito, disse que uma de suas ideias é criar uma agência de combate à pobreza. Não é novidade: a guerra à pobreza é permanente em nosso país. E até hoje os pobres estão perdendo a guerra.
A imagem do Nordeste
A campanha presidencial já começou e mostra duas coisas com clareza: primeiro, os candidatos não dão a menor bola para a lei eleitoral, que marca para muito mais tarde o início da campanha; segundo, que os candidatos têm péssima impressão do Nordeste. Bolsonaro não hesitou em distribuir fartos argumentos a congressistas para conseguir aprovar benefícios que, acredita, serão pagos com votos, principalmente no Nordeste; João Doria e Moro botaram chapéus de couro, tentando identificar-se com nordestinos. Este colunista viajou muito pelo Nordeste e viu os chapéus de couro apenas em festas a fantasia ou espetáculos. São adereços estranhos para quem, como Doria, que só nasceu na Bahia, fez toda sua carreira em São Paulo e jamais trocaria suas roupas de cashmere por trajes de Luiz Gonzaga; ou, como Moro, o Marreco de Maringá, que sempre preferiu formais ternos pretos.
Sem água
Já Bolsonaro mostra de outra maneira suas ideias a respeito do que faz falta no Nordeste: em seu Governo, caiu dramaticamente a distribuição de cisternas à população rural. Ficou muito mais difícil, sem as caixas d’água, guardar a água de chuva; e muito mais fácil passar sede e perder os animais. Lula explora outro filão: leva o eleitor a se identificar com sua origem nordestina – embora Lula seja politicamente paulista.
Uma curiosidade: no Nordeste o índice de chuvas é quatro vezes o de Israel, que, no entanto, resiste muito melhor às secas. A tecnologia israelense está à disposição tanto de Lula como de Bolsonaro. Lula não a busca por ideologia. Para Bolsonaro, que diz ter afinidades com Israel, o que falta é competência.
Em campanha
Lula está jogando parado: sabe que tem enormes chances de ir ao segundo turno e de ganhar as eleições. Bolsonaro descartou muitos ex-aliados e hoje está nas mãos do Centrão. Ficou sem margem de manobra. Mas é presidente e, embora seu prestígio tenha caído abaixo de barriga de cobra, pode até se recuperar, se bem que isso não seja fácil. Moro e Doria estão se movendo para chegar ao segundo turno, deslocando Bolsonaro. Ambos acreditam que, havendo no segundo turno uma alternativa de centro, terão grandes chances de vencer Lula. A propósito, hoje há reunião marcada entre Moro e Doria, e amanhã entre Doria e o governador gaúcho Eduardo Leite. O objetivo de Doria é atrair Leite, tucano como ele, para a coordenação da sua campanha.
Suplicy e Morais
Dois bons livros na praça para quem gosta de política brasileira: Um jeito de fazer política, de Eduardo Suplicy, comemorando seu 80º aniversário; e o primeiro volume de Lula, de Fernando Morais, um dos mais festejados biógrafos brasileiros da atualidade. Claro, são livros que têm lado: nenhum dos autores tem a imparcialidade como objetivo. Mas valem a pena, ambos: Suplicy tem carreira política rica, longa, com excentricidades conhecidas, e até com toques pop, como um flerte com a cantora Joan Baez; e Morais, mesmo sem ser lulista (está à esquerda dele), sempre esteve em contato com ele, acompanhando-o nos últimos 40 anos. O livro de Suplicy será lançado no próximo dia 11, ao meio-dia, na praça D. José Gaspar, 86, centro de São Paulo. O livro de Morais já está na praça.
Algo diferente
Amanhã, Paulo Skaf transmite a presidência da Fiesp a Josué Gomes da Silva e a do Ciesp a Rafael Cervone. Skaf estava no poder desde 2004.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.
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