Uso político de críticas ao nazismo é mais uma demonstração de delinquência intelectual de Bolsonaro

 
As recentes declarações do “podcaster” Bruno Aiub, conhecido como Monark, e do deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP) sobre o nazismo, o tema entrou no radar de políticos brasileiros, que passaram a usar o assunto para demonstrar ao eleitorado um “bom-mocismo” que simplesmente inexiste.

O sempre oportunista presidente Jair Bolsonaro condenou o nazismo, algo que sempre deve ser feito a léguas de distância da politização, pois o Holocausto foi um crime grave e bárbaro contra a humanidade, que matou 6 milhões de judeus, que por obra de Adolph Hitler tornaram-se párias na Alemanha nazista.

Bolsonaro a ocasião para comparar o movimento liderado pelo facinoroso Hitler ao comunismo. Ignaro confesso e precisando voltar ao banco da escola, o presidente está em escancarada campanha eleitoral desde 2018 e agora aparece em clara desvantagem nas pesquisas de opinião, por isso precisa atacar a esquerda, já que Lula lidera as intenções de votos em todos os cenários.

De acordo com Bolsonaro, o sistema ligado às esquerdas, assim como o nazismo, defende o “antissemitismo e divisão entre pessoas e classes”. Trata-se de uma declaração marcada pela hipocrisia, pois o presidente é o único responsável pela polarização existente no País e que só cresce.

“A ideologia nazista deve ser repudiada de forma irrestrita e permanente, sem ressalvas que permitam seu florescimento, assim como toda e QUALQUER ideologia totalitária que coloque em risco os direitos fundamentais dos povos e dos indivíduos, como o direito à vida e à liberdade”, publicou “É de nosso desejo, inclusive, que outras organizações que promovem ideologias que pregam o antissemitismo, a divisão de pessoas em raças ou classes, e que também dizimaram milhões de inocentes ao redor do mundo, como o Comunismo, sejam alcançadas e combatidas por nossas leis”, escreveu o presidente nas redes sociais.

O mandatário lembrou que a ideologia nazista destruiu milhões de vidas e defendeu que o tema seja tratado com responsabilidade e seriedade, como se as mais de 637 mil mortes por Covid-19 no Brasil não representassem ato genocida de um negacionista torpe.

“O fato de uma ideologia repugnante como a nazista ter destruído milhões de vidas exige que tenhamos extrema responsabilidade e seriedade na hora de tratar do tema, não deixando espaço para a calúnia, a difamação e a sua banalização. Não se combate uma injustiça com injustiças”.

É importante lembrar que o próprio Bolsonaro, após visita oficial a Israel, em 2019, minimizou o Holocausto. Logo depois de visita ao museu Yad Vashem, centro de memória do Holocausto, o presidente brasileiro mais uma vez acionou a alavanca da insanidade discursiva e afirmou que a barbárie nazista poderia ser perdoada.

 
Matérias relacionadas
. Israelenses reagem e condenam declaração absurda de Jair Bolsonaro sobre o Holocausto
. Para não “azedar” relação com Israel, Bolsonaro revê declaração estúpida sobre “perdoar o Holocausto”
. Associações judaicas criticam Ernesto Araújo, que comparou isolamento social a campos de concentração
. Entidades judaicas condenam declaração irresponsável e desastrada de Abraham Weintraub

“Fui, mais uma vez, ao Museu do Holocausto. Nós podemos perdoar, mas não podemos esquecer. E é minha essa frase: Quem esquece seu passado está condenado a não ter futuro. Se não queremos repetir a história que não foi boa, vamos evitar com ações e atos para que ela não se repita daquela forma”, disse Bolsonaro, que foi duramente criticado por tal declaração.

À época, o presidente de Israel, Reuven Rivlin, divulgou duas mensagens criticando as declarações de Bolsonaro, sem citar o nome do mandatário brasileiro.

“Sempre vamos nos opor àqueles que negam a verdade ou aos que desejam expurgar nossa memória — indivíduos ou grupos, líderes de partidos ou premiês. Nós nunca vamos perdoar nem esquecer”, escreveu Rivlin no Twitter.

“O povo judeu sempre vai lutar contra o antissemitismo e a xenofobia. Líderes políticos são responsáveis por moldar o futuro. Historiadores descrevem o passado e investigam o que aconteceu. Nenhuma das partes deveria entrar em território da outra”, destacou o israelense em outra postagem.

Posteriormente, Bolsonaro silenciou diante de duas polêmicas envolvendo o nazismo. A primeira ficou por conta do então ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que associou o isolamento social em razão da pandemia à perseguição sofrida pelos judeus durante o nazismo. A segunda, ficou a cargo de Abraham Weintraub – na ocasião estava à frente do Ministério da Educação – que comparou o inquérito das “fake news”, em tramitação no Supremo Tribunal Federal (STF), à perseguição imposta aos judeus pelo regime nazista.

Para concluir, Jair Bolsonaro não tem moral para condenar o nazismo, muito menos para compará-lo ao comunismo, até porque trata-se de negacionismo histórico, pois só chegou ao poder central pelo discurso racista, anticomunista, armamentista e homofóbico, apoiado por grupos radicais de extrema direita e de inspiração nazista, que proliferam de maneira assustadora nas redes sociais.

Ademais, a decisão do deputado Eduardo Bolsonaro de representar contra Kataguiri no Conselho de Ética da câmara dos Deputados, com direito a pedido de cassação de mandato, não passa de encenação mambembe de um radical de direita que defende o que há de pior na política.

Em suma, calado, Jair Bolsonaro é um poeta, longe da Presidência da República, um enorme favor. Que o presidente recolha-se à sua pequenez intelectual e permita que o Brasil siga o seu caminho, longe do radicalismo, do retrocesso e do obscurantismo.

Se você chegou até aqui é porque tem interesse em jornalismo profissional, responsável e independente. Assim é o jornalismo do UCHO.INFO, que nos últimos 20 anos teve participação importante em momentos decisivos do País. Não temos preferência política ou partidária, apenas um compromisso inviolável com a ética e a verdade dos fatos. Nossas análises políticas, que compõem as matérias jornalísticas, são balizadas e certeiras. Isso é fruto da experiência de décadas do nosso editor em jornalismo político e investigativo. Além disso, nosso time de articulistas é de primeiríssima qualidade. Para seguir adiante e continuar defendendo a democracia, os direitos do cidadão e ajudando o Brasil a mudar, o UCHO.INFO precisa da sua contribuição mensal. Desse modo conseguiremos manter a independência e melhorar cada vez mais a qualidade de um jornalismo que conquistou a confiança e o respeito de muitos. Clique e contribua agora através do PayPal. É rápido e seguro! Nós, do UCHO.INFO, agradecemos por seu apoio.