Após dificultar vacinação infantil, Bolsonaro diz que lutará para “proteger a vida” de crianças ao falar de aborto

 
Na terça-feira (22), abusando mais uma vez da hipocrisia, o presidente Jair Bolsonaro reagiu à decisão da Corte Constitucional da Colômbia a favor da liberação do aborto até a vigésima quarta semana de gestação. A decisão, por 5 votos a favor e 4 contra, retira o aborto do rol de crimes que consta do Código Penal Colombiano.

Disposto a acenar ao eleitorado evangélico, Bolsonaro ousou dizer que lutará para “proteger a vida” de crianças brasileiras. “Que Deus olhe pelas vidas inocentes das crianças colombianas, agora sujeitas a serem ceifadas com anuência do Estado no ventre de suas mães até o 6º mês de gestação, sem a menor chance de defesa”, escreveu o presidente no Twitter. “No que depender de mim, lutarei até o fim para proteger a vida de nossas crianças”, completou.

A declaração de Bolsonaro vai na contramão das inúmeras dificuldades que ele próprio criou no âmbito da vacinação pediátrica contra a Covid-19. Além de obrigar o Ministério da Saúde a abrir consulta pública sobre o tema, Bolsonaro tentou emplacar a obrigatoriedade de prescrição médica para a imunização de crianças de 5 a 11 anos de idade.

No dia 24 de dezembro, em entrevista a jornalistas, em frente ao Palácio da Alvorada, tentou justificar a decisão do governo de trabalhar contra a vacinação de crianças. “”Não está havendo morte de criança que justifique algo emergencial”, disse o presidente.

“Uma pergunta: está morrendo criança de 5 a 11 anos que justifique algo emergencial? Está vendo como é duro discutir? É pai que decide, em primeiro lugar. Eu não quero determinar nada para a saúde”, emendou Bolsonaro. Desde o início da pandemia, mais de 1.400 crianças já morreram devido à doença no Brasil.

Como se fosse pouco, Jair Bolsonaro ameaçou divulgar os nomes dos dirigentes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que autorizaram a vacinação pediátrica contra o novo coronavírus.

 
Bolsonarista de carteirinha e de primeira hora, Bia Kicis (PSL-DF), que preside a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados (CCJ), divulgou em grupos de WhatsApp dados (CPF, e-mail, telefone celular e nome completo) de três médicos que fizeram defesa contundente da vacinação pediátrica contra Covid-19 durante a mencionada audiência pública. Os dados estavam em poder do Ministério da Saúde, que está sob o comando do subserviente ministro Marcelo Queiroga.

Em relação aos dados dos diretores da Anvisa, Queiroga disse na ocasião da polêmica que “não há problema em se ter publicidade dos atos da administração. Acredito que isso é até um requisito da Constituição”. A declaração foi dada a jornalistas, que questionaram o ministro sobre possíveis ameaças aos diretores e técnicos da Anvisa a partir da divulgação dos dados.

A Anvisa enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF), em dezembro, todas as informações sobre as ameaças sofridas por seus integrantes após a aprovação da imunização infantil.

No dia 21 do mesmo mês, a Polícia Federal concluiu o primeiro inquérito sobre as ameaças de morte sofridas pelos membros da Anvisa. A PF concluiu ao final da investigação que o crime foi cometido por um homem do Paraná que é contra a vacinação de crianças no caso da Covid-19.

“Deixando bem claro para os responsáveis, de cima para baixo: quem ameaçar, quem atentar contra a segurança do meu filho: será morto. Isto não é uma ameaça. É um estabelecimento. Estou lhes notando por escrito porque não quero reclamações depois”, escreveu o investigado.

Voltando a Bolsonaro… O presidente disse que lutará para “proteger a vida” de crianças brasileiras que ainda vieram à luz, mas as de 5 a 11 anos podem correr o risco de morte por Covid-19 porque Bolsonaro precisa jogar para sua insana plateia.

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