“Gabinete de pastores”: é preciso quebrar o sigilo bancário dos envolvidos no escândalo da Educação

 
O escândalo do “gabinete de pastores” que funcionava no Ministério da Educação com o consentimento explícito do então ministro Milton Ribeiro continua sem a devida explicação. Ribeiro, que deixou o cargo recentemente após a repercussão do caso, confirmou à Polícia Federal, em depoimento, que o presidente Jair Bolsonaro solicitou que fossem atendidos os pleitos apresentados pelos pastores Gilmar Silva dos Santos e Arilton Moura.

Aos investigadores o ex-ministro confirmou o que havia dito em conversa com prefeitos e lideranças religiosa, cujo áudio foi divulgado pelo jornal “Folha de S.Paulo”. Ribeiro se recusou a participar de sessão na Comissão de Educação do Senado, onde poderia explicar o caso e o seu suposto envolvimento no esquema criminoso.

Gilmar e Arilton intermediavam a liberação de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para prefeituras e, como contrapartida, cobravam propina em dinheiro, barras de ouro e por meio da compra forçada de exemplares da Bíblia.

Tão logo o escândalo veio à tona, líderes da comunidade evangélica entoaram uma ruidosa crítica aos pastores, inclusive a Milton Ribeiro, mas a gritaria perdeu força nos últimos dias. Não se deve descartar uma atuação do Palácio do Planalto nos bastidores para acalmar os ânimos no campo evangélico, base de apoio de Jair Bolsonaro.

O Tribunal de Contas da União (TCU) determinou, nesta segunda-feira (4), a imediata abertura de uma inspeção no Ministério da Educação para apurar os repasses feitos a prefeituras com intermediação da dupla de pastores evangélicos. A determinação é do ministro Walton Alencar Rodrigues, do TCU.

Mesmo com a investigação conduzida pela Polícia Federal e a apuração determinada pelo TCU, é preciso quebrar os sigilos telefônico, telemático e bancário dos envolvidos para rastrear o dinheiro da propina. Sem essa medida o País estará em breve diante de mais um escândalo sem solução.

 
Estratégia conhecida

O escândalo de corrupção envolvendo as negociações para compra de vacinas contra Covid-19 pelo Ministério da Saúde foi alvo da CPI da Covid, que funcionou no Senado Federal, mas até o momento ninguém foi punido pelos crimes.

Ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, indicado ao cargo pelo deputado federal Ricardo Barros (Progressistas-PR), líder do governo na Câmara, foi acusado de cobrar propina de R$ por dose da vacina da AstraZeneca contra Covid-19. O pedido de propina foi feito no âmbito de eventual compra de 400 milhões de doses do imunizante.

Como se não bastasse, Dias teve boletos emitidos em seu nome pagos pela empresa VTC Log, que tem contrato com a pasta. Os boletos, alguns emitidos pela Voetur Turismo, começaram a ser quitados onze dias após manobra que transferiu um contrato milionário da VTC Log para o setor sob o comando de Roberto Dias. A Voetur Turismo e a VTC Log pertencem ao mesmo grupo empresarial. A Comissão Parlamentar de Inquérito chegou a essa conclusão.

A CPI tomou o depoimento de Ivanildo Gonçalves da Silva, que trabalha como motoboy para a VTC Log e suas declarações reforçaram as suspeitas. Ele confirmou à CPI que realizou diversos saques de altas quantias a mando da empresa, o maior deles foi de aproximadamente R$ 400 mil.

À época, a CPI mostrou que as idas de Ivanildo a agências bancárias para realizar os saques coincidiram com as datas de pagamentos dos boletos emitidos contra Roberto Ferreira Dias.

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