Rússia acusa Israel de apoiar “regime neonazista em Kiev”

 
Com a guerra na Ucrânia avançando de forma absurda e longe dos planos iniciais do Kremlin, a Rússia tenta tumultuar o episódio com declarações criminosas que demonstram a preocupação das autoridades russas com efeitos colaterais de uma inevitável derrota moral.

Na terça-feira (3), as tensões entre Moscou e Tel Aviv aumentaram após o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, acusar Israel de apoiar neonazistas na Ucrânia. No último final de semana, em entrevista a uma emissora de TV italiana, Lavrov citou uma teoria conspiratória totalmente desacreditada de que Adolf Hitler tinha “sangue judeu”, provocando revolta do governo israelense.

Agora, a nova acusação de Lavrov veio após o ministro das Relações Exteriores de Israel, Yair Lapid, condenar as falas do homólogo russo e acusá-lo de fazer uso político do Holocausto. Na segunda-feira (2), Lapid exigiu um pedido de desculpas de Lavrov e classificou o comentário como falsidade “imperdoável” que tenta minimizar os horrores do Holocausto – o massacre de 6 milhões de judeus e outros grupos minoritários pela Alemanha nazista.

Na terça, Lavrov escreveu, em comunicado, que os comentários de Lapid eram “anti-históricos” e “explicam em grande medida por que o atual governo israelense apoia o regime neonazista em Kiev”.

“Infelizmente, a história conhece exemplos trágicos de cooperação judaica com os nazistas”, afirmou o chanceler russo, no comunicado.

No texto, Lavrov reiterou que as origens judaicas do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, não impediam que a Ucrânia fosse governada por neonazistas. “O antissemitismo na vida cotidiana e na política não parou e, ao contrário, é alimentado [na Ucrânia]”, destaca o documento.

“A Ucrânia, diga-se de passagem, não é a única neste caso”, afirmou, citando o presidente da Letônia, Egils Levits, que “também tem raízes judaicas e também dá cobertura à reabilitação da Waffen SS em seu país”, acrescentou.

 
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Propaganda russa

Um dos instrumentos da máquina de propaganda do Kremlin para justificar a guerra de agressão contra a Ucrânia tem sido conceituar o país vizinho como uma nação dominada por “nazistas” e que as tropas teriam apenas a intenção de “desnazificar” a região. No entanto, a acusação entra em choque com o fato de que Zelensky é judeu – e teve familiares mortos no Holocausto – e que pesquisas mostram serem ucranianos mais tolerantes em relação aos judeus que os próprios russos.

“Depois que o Kremlin afirmou que Israel apoia o nazismo, tenho apenas uma pergunta. Existe algum país não nazista no mundo inteiro do ponto de vista da Rússia? Exceto Síria, Belarus e Eritreia, é claro”, ironizou, no Twitter, o conselheiro presidencial ucraniano Mykhailo Podolyak, mencionando países que apoiaram no que Moscou chama de “operação militar especial” na Ucrânia.

Em busca do equilíbrio

Desde o início da invasão à Ucrânia, em 24 de fevereiro, Tel Aviv tem procurado manter um equilíbrio delicado entre os dois lados. Segundo analistas, essa reticência se deveria, em parte, à dependência em relação aos russos para a coordenação de segurança no Oriente Médio, também graças à presença militar de Moscou na vizinha Síria.

As relações ficaram mais tensas no mês passado, quando Lapid acusou a Rússia de cometer crimes de guerra na Ucrânia.

A Ucrânia é um país com governo democraticamente eleito. Apesar disso, assim como outros países, convive com células neonazistas — entre elas, o Batalhão Azov, em parte incorporado às Forças Armadas. Porém, especialistas garantem que as alegações de um governo nazista na Ucrânia não se sustentam. (Com agências internacionais)