Economia descompassada: trabalhadores informais e endividados em alta, PIB positivo e inflação nas alturas

 
Ex-ministro da Economia no governo anterior, Paulo Guedes ganhou do então presidente Jair Bolsonaro a alcunha “Posto Ipiranga”, em alusão ao mote da campanha publicitária da rede de postos de combustíveis. Durante alguns meses o apelido sugeriu que Guedes era um poço de soluções para os muitos problemas econômicos do Brasil.

Não foi preciso muito tempo para que a farsa fosse revelada. Meses após assumir o comando da economia nacional, Paulo Guedes inaugurou um festival de besteiras capaz de envergonhar até mesmo o mais insensível dos seres humanos.

Além das declarações preconceituosas, como, por exemplo “domésticas na Disney” e “filho do porteiro na universidade”, Guedes afirmou em várias ocasiões que a economia brasileira estava voando, o que não é verdade. Depois do pico da pandemia do novo coronavírus, o outrora ministro falou em crescimento em “V” da economia nacional, o que não aconteceu.

Em março de 2020, quando o dólar chegou a R$ 4,60, Guedes afirmou que a moeda americana ultrapassaria os R$ 5 se ele fizesse “muita besteira”. “Eu estou dizendo que é um câmbio que flutua, se eu fizer muita besteira, ele pode ir para esse nível [R$ 5]. Se eu fizer muita coisa certa, ele pode descer”, pontuou. Hoje o dólar é comercializado por R$ 5,20, cotação das 13h40.

Em 2021, quando a crise hídrica levou ao aumento da tarifa de energia elétrica, Guedes disse: “Temos de enfrentar a crise. Vamos ter de subir a bandeira, a bandeira vai subir. Vou pedir aos governadores para não subir automaticamente [o ICMS da energia elétrica], eles acabam faturando em cima da crise. Temos de enfrentar, não adianta ficar sentado chorando”.

 
Encerrado o pior governo da história brasileira, exceto os da ditadura militar, o esquife da economia começa a libertar seus fantasmas. Na terça-feira (28), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou levantamento que aponta recuo do desemprego no Brasil, que em 2022 ficou em 9,3%, menor taxa desde 2015.

Se por um lado o levantamento do IBGE é animador, por outro é preocupante. Isso porque em 2022 o contingente de trabalhadores informais chegou a 12,9 milhões. No ano anterior, esse número era de 11,2 milhões.

Como temos afirmado ao longo dos últimos meses, a inflação brasileira não é fruto de excesso de demanda, mas de fatores externos e da instabilidade política alimentada por Jair Bolsonaro, que durante o mandato presidencial ameaçou permanentemente a democracia. A ministra Simone Tebet (Planejamento, Orçamento e Gestão) reconheceu esse cenário na quarta-feira (1), em mais uma sinalização para que o Banco Central reduza a taxa básica de juro, a Selic, atualmente em 13,75% ao ano.

Nesta quinta-feira (2), o IBGE informou que o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 0,2% no quarto trimestre de 2022, mas encerrou o ano com crescimento de 2,9%, totalizando R$ 9,9 trilhões. O crescimento do PIB no ano anterior cresceu na esteira das altas no setor de serviços (4,2%) e na indústria (1,6%), que juntos representam cerca de 90% do indicador. Por outro lado, a agropecuária recuou 1,7% em 2022.

Em outro vértice da crise econômica, herança maldita deixada pelo falastrão Paulo Guedes, o número de brasileiros inadimplentes saltou no último ano e chegou 70,1 milhões de pessoas em janeiro de 2023, um novo recorde. A inflação e a lenta recuperação da renda do trabalhador são as principais causas do elevado número de endividados e com contas em atraso. Esse quadro compromete a capacidade de consumo das famílias e o crescimento do PIB.

A arrecadação do governo federal com impostos, contribuições e demais receitas atingiu R$ 2,21 trilhões em 2022, de acordo com dados da Receita Federal. Em valores corrigidos pela inflação, o montante chega R$ 2,25 trilhões, alta real de 8,18% na comparação com o ano de 2021 (R$ 2,08 trilhões).


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