Dantesca, epopeia das milionárias joias sauditas enviadas a Michelle Bolsonaro está apenas no começo

 
A polêmica envolvendo as joias presenteadas pelo governo saudita a Michelle Bolsonaro e avaliadas em R$ 16,5 milhões produzido versões das mais estapafúrdias. Ex-ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, cujo assessor transportava as joias em uma mochila, afirmou que o material apreendido pela Receita Federal era um presente para a então primeira-dama.

Ainda refugiado nos Estados Unidos e sem data para retornar ao Brasil, Jair Bolsonaro se manifestou sobre o assunto durante congresso da extrema-direita estadunidense em Washington, evento que aconteceu no último final de semana. Bolsonaro disse que não recebeu qualquer presente do governo de Riad, mas afirmou que Michelle poderia utilizar as joias, sem se desfazer do presente.

Se o ex-presidente afirma que não recebeu o presente milionário, não há como dizer que Michelle Bolsonaro poderia utilizar as joias, assim como outras primeiras-damas. Para que Michelle pudesse usar as joias como sugeriu Bolsonaro, a Receita Federal deveria ter sido notificada que se trava de um presente ao Estado brasileiro.

Michelle Bolsonaro, sempre à sombra da languidez, recorreu à ironia para tratar do assunto. De início atacou a imprensa, assim como fez o ex-presidente, e na sequência tentou se colocar na posição de vítima. Disse que, como “mulher traída”, foi a “última a saber” que as polêmicas joias foram enviadas a ela pelo governo saudita, em 2021.

Afirmou a ex-primeira-dama desconhecer que as joias foram apreendidas pela Receita Federal há mais de um ano e que o governo de Jair Bolsonaro se movimentou em diversas ocasiões para tentar reavê-las. Faltando dois dias para o fim do governo, Bolsonaro deflagrou, sem sucesso, a derradeira investida para recuperar as joias.

 
Com o escândalo avançando a passos largos no terreno das dificuldades, Michelle Bolsonaro teria acionado um advogado para eventual devolução das joias ao governo de Riad. A ex-primeira-dama acredita que dessa forma ficaria evidente que ele não tem qualquer relação com o episódio, do qual tomou conhecimento por meio da imprensa.

As declarações dos envolvidos direta e indiretamente no caso pouco importam, pois o crime de descaminho é inequívoco. Além disso, crimes como peculato e lavagem de dinheiro serão investigados pela Polícia Federal, que já entrou em cena a pedido do ministro da Justiça, Flávio Dino.

Desculpas absurdas à parte, fato é que Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro César Barbosa Cid (à época ajudante de ordem da Presidência), o então ministro Bento Albuquerque e o assessor Marcos André dos Santos Soeiro estão na mira dos investigadores, uma vez que as declarações são divergentes e com pouco poder de convencimento. Para o olho do furacão poderá ser arrastado o ex-ministro Paulo Guedes (Economia).

Além disso, a decisão de Bolsonaro de exonerar o então secretário da Receita Federal, José Tostes, pouco mais de um mês após a apreensão das joias no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, desmonta suas alegações sobre um “presente que não recebeu”.

Ademais, a derradeira “carteirada” que o secretário da Receita Federal à época dos fatos, Júlio Cesar Vieira Gomes, tentou dar para liberar as joias, sem sucesso, rendeu nomeação para uma sinecura no exterior. Vieira Gomes foi nomeado adido da Receita na embaixada do Brasil em Paris, mas a nomeação foi anulada pelo presidente Lula.


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