Durante a campanha presidencial de 2018, o UCHO.INFO afirmou em várias ocasiões que Jair Bolsonaro, se eleito presidente da República, em algum momento tentaria dar um “cavalo de pau” na democracia brasileira. Ao longo dos quatro anos do pior governo da história nacional, não restou dúvida a respeito da intenção de Bolsonaro, que por várias vezes atentou contra a democracia e o Estado de Direito.
Antes de ser derrotado por Lula, que desde janeiro está à frente do Executivo federal pela terceira vez, Bolsonaro estava ciente da possibilidade de fracassar nas urnas, mesmo com todos as decisões populistas que adotou de última hora para tentar garantir a reeleição, mas que na verdade estraçalhou a economia.
Nas semanas que antecederam a disputa presidencial, Bolsonaro recorreu à turba golpista para eventualmente tumultuar o processo eleitoral. Teve conivência das Forças Armadas no âmbito de eventual golpe de Estado, acampamentos ilegais em frente a quarteis, assessores diretos com plano golpista, propostas criminosas de aliados e, por fim, a invasão e depredação das sedes dos três Poderes, em 8 de janeiro.
Apesar desse enredo golpista, Bolsonaro não apenas ousa falar em democracia e respeito à Constituição, mas recorre com persistência à condição de vítima como forma de sobreviver politicamente.
A prisão do hacker Walter Delgatti Neto e o mandato de busca e apreensão em desfavor da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), nesta quarta-feira (20), comprovaram que a tentativa de golpe existiu de fato, assim como permanecem as ameaças de quebra do regime democrático.
Preso pela Polícia Federal na cidade de Araraquara, no interior paulista, Delgatti disse que foi contratado pela deputada bolsonarista para invadir o Banco Nacional de Mandados de Prisão, do Conselho Nacional de Justiça (BNMP/CNJ), em 4 de janeiro, e inseris no sistema um falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
No falso documento, consta que Moraes teria mandado prender a si mesmo por “litigância de má-fé”, isto é, por ter acionado o sistema judiciário sem causa plausível. “Diante de todo o exposto, expeça-se o competente mandado de prisão em desfavor de mim mesmo, Alexandre de Moraes. Publique-se, intime-se e faz o L.”, destacava outro trecho da apócrifa decisão.
Delgatti afirmou em depoimento que, a pedido de Zambelli, inseriu no sistema de mandados de prisão alvarás de soltura de 10 presos espalhados por diferentes estados.
A situação da deputada Carla Zambelli não é das mais confortáveis desde quando a parlamentar, na véspera do segundo turno da eleição presidencial, perseguiu com arma em punho, no bairro paulistano dos Jardins, um apoiador do então candidato Lula.
O episódio colaborou para a derrota de Bolsonaro, que recentemente tornou-se inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no âmbito de julgamento sobre abuso de poder político e uso da estrutura do Estado para disseminar notícias falsas acerca da confiabilidade das urnas eletrônicas.
Como se fosse pouco, o hacker preso pela PF disse que Zambelli o levou até o então presidente Jair Bolsonaro, que durante o encontro quis saber se Delgatti seria capaz de invadir as urnas eletrônicas.
Carla Zambelli, por sua vez, nega ter mantido qualquer relação de trabalho com Delgatti, que já exibiu depósitos bancários no total de R$ 13.500,00 feitos por assessores e pessoas próximas à parlamentar.
Diante da repercussão do caso e das declarações de Delgatti, a deputada bolsonarista disse que tentam envolver Bolsonaro na investigação. O apoio torpe e incondicional ao ex-presidente pode render a Carla Zambelli a cassação do mandato parlamentar.
O deputado federal João Leão (PP-BA), integrante do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados e relator do processo que apura eventual quebra de decoro por parte de Zambelli, votou a favor da continuidade do procedimento. Em outras palavras, o prazo de validade da fama repentina de Zambelli está perto do fim.
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