Tiro no pé – Em meados de 2006, quando se preparava para encarar a campanha pela reeleição, o presidente Luiz Inácio da Silva abusou da irresponsabilidade ao afirmar que a saúde pública no Brasil estava a um passo da perfeição. No ano seguinte, por ocasião da derrubada da voraz CPMF, Lula disse que a saúde pública ficaria comprometida por conta do fim da arrecadação de R$ 40 bilhões advindos do imposto travestido de contribuição. Desde o fim do chamado “imposto do cheque” – na verdade a CPMF incidia sobre quase todas as transações bancárias – o governo federal vem batendo recordes de arrecadação, mas nada mudou para melhor na área da saúde, muito pelo contrário.
Para reforça ainda mais a pirotecnia que marcou a sua longeva passagem pelo Palácio do Planalto, o messiânico Lula decidiu torrar R$ 20 milhões dos contribuintes para veicular campanha de despedida, cuja assinatura, ao final, afirma que “estamos vivendo o país de todos”. Uma tremenda mentira, pois uma das garantias constitucionais básicas do cidadão, a saúde pública, é a prova maior de que o Brasil continua na condição de feudo de uma criminosa e oportunista minoria.
Para que a nossa insistência em relação a temas da saúde pública não fique órfã de provas, a internação do vice-presidente José Alencar Gomes da Silva é mais uma evidência de que o setor está à beira do caos. Empresário rico e de sucesso no segmento têxtil, José Alencar luta há treze anos contra um câncer na região abdominal. Internado às pressas no Hospital Sírio-Libanês no último dia 22, Alencar foi submetido a uma cirurgia para localizar e interromper uma hemorragia interna no abdômen. Diante da impossibilidade do sucesso da intervenção cirúrgica, a equipe médica decidiu combater o problema com o uso de medicamentos, transfusão de sangue e seguidas sessões de hemodiálise. Desde então, o vice-presidente está internado na Unidade de Terapia Intensiva do hospital que se transformou em catedral da medicina para ricos e poderosos de todo o País.
De acordo com boletim médico divulgado nesta quinta-feira, José Alencar deve deixar a UTI ainda hoje, mas não poderá participar da cerimônia de posse da neopetista Dilma Rousseff. A reportagem do ucho.info foi a campo para pesquisar o custo da internação de Alencar na UTI nesses nove dias. Leitor do site, um experiente cirurgião vascular, que atua nos principais hospitais particulares da capital paulista, afirmou que uma diária na UTI, com direito a tratamentos básicos e de rotina e sem medicamentos, custa no mínimo R$ 10 mil. O nosso entrevistado tomou por base não apenas a sua experiência como cirurgião, mas a internação do próprio pai na UTI do Sírio-Libanês, que ao final de trinta dias custou ao plano de saúde a pequena fortuna de R$ 300 mil.
Apenas para ilustrar a nossa indignação em relação à discrepância que marca o atendimento médico-hospitalar à disposição do povo e o que está disponível aos seus representantes, o ucho.info foi responsável por forçar uma negociação entre a Câmara dos Deputados e o Hospital do Coração, em São Paulo, onde ficou internado o finado deputado Ricardo Izar (PTB), cujo tratamento médico custou perto de US$ 1 milhão. Por conta de nossa insistência, que nos rendeu reclamações e intimidações, o valor final da conta teve um considerável desconto, pois a Câmara não mantém convênio com o referido hospital.
Na mesma situação de José Alencar existem alguns milhares de brasileiros, pagadores de impostos, que não têm planos de saúde e dependem da rede pública para lutar contra a morte. E do mesmo modo não têm à disposição o equivalente a 600 salários mínimos para despejar no caixa de um hospital particular. Em outras palavras, diferentemente do que afirmou o profético Luiz Inácio, a saúde no Brasil está, como sempre esteve, a um passo do caos. Sem contar que estamos há anos-luz de viver o país de todos.