Fio da navalha – O Senado norte-americano protagonizou, neste domingo, 31 de julho, mais um capítulo negativo na arrastada batalha empreendida pela Casa Branca para aumentar o teto da dívida pública dos Estados Unidos, atualmente em US$ 14,3 trilhões, limite máximo permitido por lei. No caso de os parlamentares não chegarem a um acordo, o governo dos EUA terá de deixar de pagar os credores, o que tecnicamente pode acontecer a partir da próxima terça-feira, 2 de agosto.
Representantes dos democratas e dos republicanos anunciam, de lado a lado, que uma solução de consenso está próxima, mas serão necessárias doses extras de habilidade política e muita paciência, pois por trás do aumento da dívida está o interesse político que recobre a eleição presidencial de 2012. Sem um candidato à altura para enfrentar Barack Obama, que tem enfrentado problemas desde que chegou à Casa Branca, o Partido Republicano encontrou no embate atual uma forma de desgastar politicamente o presidente ianque.
Desde a última sexta-feira (29), esta foi a terceira tentativa fracassada de aprovar um projeto que garanta a elevação da dívida do país. Na noite da própria sexta, o Senado derrubou uma proposta apresentada por John Boehner, do Partido Republicano, que previa o aumento da dívida norte-americana em US$ 900 bilhões, mas em contrapartida exigia cortes de gastos federais da ordem de US$ 2,4 trilhões, nos próximos dez anos.
Sem dúvida o grau de endividamento dos EUA terá de ser minimizado ao longo dos anos com cortes no orçamento, mas os US$ 900 bilhões de elevação da dívida sugeridos por Boehner garantem ao País um fôlego de no máximo seis meses em relação aos compromissos com os credores. A recusa dos democratas, que no Senado representam a maioria, está baseada em dois alicerces. O primeiro deles é que o partido de Obama defende a proposta do corte de gastos em consonância com o aumento de impostos sobre 2% da parcela mais rica dos norte-americanos. O segundo ponto, não técnico, mas meramente político, é que os seis meses de fôlego obrigariam uma nova discussão sobre a elevação do teto da dívida em 2012, ano em que Barack Obama tentará a reeleição.
Horas depois, no sábado (30) a Câmara dos Representantes, onde a maioria é republicana, rejeitou um projeto apresentado pelos democratas. O plano fixava a elevação da dívida em US$ 2,4 trilhões (passaria para US$ 16,7 trilhões) e cortava gastos no valor de US$ 2,2 trilhões nos próximos dez anos.
Líder dos democratas no Senado, Harry Reid discursou instantes atrás no Capitólio e pediu aos parlamentares para que ficassem nas imediações, pois uma nova votação pode ser convocada a qualquer momento. Enquanto isso, representantes da Casa Branca e dos congressistas buscam um acordo, pois o Tesouro local fixou a próxima terça-feira (2) como prazo limite para a solução do impasse.
Se o parlamento norte-americano não chegar a um consenso nas próximas horas, como prometeu Reid, o mundo romperá a semana de pernas para o ar, pois, querendo ou não os adeptos confessos do antiamericanismo, todas as economias do planeta sobrevivem de olho no que é decido em Washington.
A última saída, que poderia causar um estrago político considerável, mas pouparia muitas economias ao redor da Terra, seria o presidente Barack Obama apelar para a 14ª emenda da Constituição dos Estados Unidos, chamando para si a responsabilidade de tirar o país de uma situação de pré-calote. Como o próximo ano é de eleição presidencial, Obama insistirá no diálogo até o último minuto.
Mesmo que o impasse seja solucionado, não importando o caminho, a situação dos EUA no cenário econômico mundial não será a mesma, o que obrigará a Casa Branca a esforços extras para recuperar a atual classificação “triple A”, status de países considerados seguros. Levantamento feito pela Bloomberg, até a próxima quarta-feira (3) vencerão US$ 90 bilhões em títulos da dívida americana. O Brasil, que já experimentou o amargor de uma moratória, integra a lista dos principais credores dos Estados Unidos, com US$ 200 bilhões em títulos governamentais.